No próximo domingo o povo chileno vai tomar uma decisão crucial. Escolherá entre o neofascismo e a democracia. Entre José Antonio Kast, de extrema-direita, e Gabriel Boric, da esquerda moderada. Entre um ultraconservador e um progressista. Entre o ódio militarizante e a consciência civil e cidadã.
Kast representa o espírito de casta da elite chilena. Não por acaso, encerrou sua campanha no rico distrito de Las Condes. Boric, para afastar temores, buscou assemelhar-se a água boricada, solução tópica para infecções e fungos. Seu comício final no Parque Almagro, em Santiago, ontem, reuniu multidão. Os institutos de pesquisa os colocam em empate técnico.
Uma vitória de Kast seria um retrocesso para o Chile. Admirador da sangrenta ditadura de Pinochet, de Trump e de todos os extremistas de direita do mundo – inclusive o presidente do Brasil -, o conservadorismo de Kast vem do berço: seu pai, alemão, filiou-se voluntariamente ao partido nazista, ainda jovem. E emigrou para o Chile em 1950, embora seu filho defenda que se crie “uma vala” para impedir a entrada de imigrantes que chegam pelo Norte do Chile.
Kast afirma que “se Pinochet estivesse vivo, votaria em mim”. No referendo de 1988, que disse “Não” à continuidade do ditador corrupto e sanguinário, Kast votou “Sim”… Como diz sim ao ultraneoliberalismo econômico, do qual a ditadura pinochetista foi o primeiro laboratório no mundo periférico. Resultando em miséria, fome e privatização da educação em um país que ostentava índices invejáveis, para a América Latina, de superação das desigualdades.
O Chile está numa encruzilhada. Pode dar, pelo voto (que é voluntário lá), um aval aos horrores que se impuseram após o governo da Unidade Popular (1970-1973) de Salvador Allende, derrubado por um golpe traiçoeiro e criminoso. Pode garantir, com um voto histórico, o avanço da democracia e da justiça social, clamor das gigantescas manifestações de massa que culminaram na Constituinte paritária, de empoderamento popular. Tirania nunca mais!
Desejando muito a vitória do “Aprovo Dignidade”, de Boric, relembro Pablo Neruda (1904-1973): “vejam o que vem e o que nasce, as pobres esperanças de meu povo. As crianças nas escolas, e com sapatos! O pão e a justiça repartindo-se, como o sol se reparte no verão”.
Povo chileno, não nos falte, não defraude nossas teimosas esperanças! Assim seja!