SERENIDADE NA TORMENTA

Cristo na tempestade no Mar da Galiléia (por Rembrandt van Rijn)

O Evangelho lido hoje em milhares de comunidades de fé do mundo (Marcos 4, 35-41) mostra um Jesus “zen”, leve em meio ao peso do mundo. Dormindo na frágil embarcação sobre ondas revoltas.

Lição de vida nesse universo de temores, incertezas e ansiedades em que navegamos.

Ficamos assustados e inseguros quando topamos ir “para a outra margem” (35), saindo da zona de conforto, da acomodação.

Mas o que é nossa existência senão essa travessia arriscada em mares mais agitados do que calmos?

O sono relaxado de Jesus – incomodando seus parceiros de embarcação – nos indaga: adianta se afligir ou estressar demais? O que tanto tememos?

Por que perdemos o sono, imprescindível frente às tempestades de egoísmos, opressões e “neuras” que a sociedade de consumo, das competições desvairadas, impõe?

Ao ler essa passagem, me vem a suave canção do nosso Lenine: “mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma/ até quando o corpo pede um pouco mais de alma/(…) eu sei , a vida não para/(… ) a vida é tão rara”.

Revisitando essa história, recorro à sabedoria oriental do monge budista Thich Nhat Hanh (1926-2022): “se, no nosso coração, ainda nos apegamos a qualquer coisa – raiva, ansiedade ou posses – não podemos ser livres”. Sofremos por querer permanente o que é transitório…

Acolhamos também a indagação do amável papa Francisco: “quais os ventos que se abatem sobre nossa vida e as ondas que impedem nossa navegação?”.

Sim, há “vento forte” a enfrentar: doenças de entes queridos, injustiça social, mentiras políticas em escala industrial, discriminações, ânsia de prestígio e mando, violência.

Jesus, acordado pelos seus, calou o vento e acalmou o mar. E deu um toque nos discípulos apavorados (agora admirados): “por que vocês são tão medrosos e sem fé?” (40).

Como anda nossa fé, nossa confiança em Deus, nos outros e em nós mesmos, na vida e no que virá?

“Jesus no fundo do barco, dormindo com a cabeça no travesseiro” (38) é uma descrição humaníssima e inspiradora.

Navegar é preciso, sem temor de naufrágios! Com fé e sabendo o rumo do único porto seguro: o da verdade, da justiça, da busca da vida plena para tod@s.

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