Nesse 6o domingo da Páscoa, Jesus resume toda lei e sua doutrina (João, 15, 9-17): “o meu mandamento é este: amem-se uns aos outros, assim como o Pai me ama e eu amei vocês. Não existe amor maior do que dar a vida por seus amigos”. Definitivo, direto e reto!
Dia desses vi uma tirinha de jornal linda. Um adulto fazia aquela pergunta clássica (e meio tola) a uma menininha:
-O que você quer ser quando crescer?
E ela, certeira e desconcertante: -Generosa!
Não é o padrão do mundo dominante, da competição, do cada um por si. Da concorrência desvairada, do ter acima do ser.
Amar devia ser a lei maior. Não a indiferença, o “mateus, primeiro os meus”, o “odiai-vos uns aos outros”!
Amor é o reconhecimento do outro como meu igual, mesmo tão diferente (felizmente)! Amar é sentir no totalmente outro meu próximo.
“Não chamo vocês de empregados, pois o empregado não sabe o que o patrão faz, mas de amigos” – acrescenta Jesus. A relação amorosa é horizontal, franca e fraterna.
Companheiro/a: aquele/a com quem reparto o pão. Sem qualquer discriminação. “Compreendi que Deus não faz diferença entre as pessoas. Pelo contrário, Ele aceita quem o respeita e pratica a Justiça, seja qual for sua nação!” – exclama Pedro (Ato dos Apóstolos, 10, 34,35).
Ser é ser-com-o-outro! Outro a quem alguns grupos indígenas do Brasil chamam ‘Txai’: “meu outro coração”.
Descobrir o ‘alter’ é combater o ‘ego’ – autocentramento, apequenamento do ser.
Amar é passaporte para a alegria. Amor dos amigos, dos enamorados, de pai e mãe (ouro de mina!), dos filhos, dos irmãos (consanguíneos ou escolhidos).
Gostar de gente é ter afeição pelo mundo, pela Humanidade, e querê-la menos desigual e injusta: “gente é outra alegria, diferente das estrelas” (Terra, Caetano Veloso).
Amar é cuidar da Casa Comum tão maltratada e entender – sem negacionismo climático! – a sua reação, com enchentes, secas, vírus destruidores. A Terra, ser pulsante em tensa harmonia, não precisa de nós, e sim nós dela.
Encheria páginas escrevendo sobre as muitas formas de amar*: Deus é amor. A vida devia ser uma “Love Celebration”…
A efetivação do amor, para além das palavras, é a relação com o próximo (vizinho ou pessoa distante). É a prática solidária.
No velho prédio do Museu do Homem, em Paris, há uma inscrição muito tocante: “Depende desse outro, que cruza o meu caminho, que eu seja túmulo ou tesouro, que eu fale ou me cale… Eu não tenho senão a ti, amigo. Não chegue sem vontade!”.
Como anda sua vontade de amar – e de, doando-se, ser feliz?
*Escrevi um livrinho, Amor, a lei maior – o cântico dos cânticos em nós (Editora Salesiana, SP, 2002)