(Breve reflexão para cristãos ou não)
O Domingo de Ramos é muito especial: abre a Semana Santa. A entrada triunfal de Jesus em Jerusalém (Mc 11, 1-10) é carregada de símbolos atualíssimos e comoventes.
Sua montaria é um jumentinho, a mesma que o levara, com seus pais, para o exílio no Egito, fugindo da fúria genocida de Herodes. Nada de cavalo fogoso de rei belicoso! Um burrico, que logo será devolvido, a indicar que apenas emprestado (e não possuído, apropriado) é tudo o que utilizamos na vida.
Quem acolhe o Nazareno é o povo pobre, a “romaria dos mutilados”, dos desvalidos. São os condenados da Terra: “Bendito o que vem em nome do Senhor!”. Mais que o “filho de David”, da realeza desse mundo, quem chega é um dos nossos: irmão.
A criançada grita “hosanas”. Sim, as crianças! A pureza original, as donas do Reino, junto com aquele/as que têm seu espírito: “há um menino, há um moleque, morando dentro do meu coração: toda vez que o adulto balança ele vem pra me dar a mão!” (Fernando Brant e Milton Nascimento).
Mãos e palmas acolhendo um Jesus vitorioso na simplicidade. O salmista (8:2) já avisara: “na boca dos pequeninos e dos bebês de peito suscitei um louvor”.
E os ramos, os mantos, o abraço verde da esperança, do viço. O vegetal que vivifica, a palma que protege das intempéries (tão frequentes e mortais, por nossa ganância com o planeta. Deus nos proteja e console as famílias enlutadas).
Ramos como o que a pombinha traz no bico após o dilúvio, indicando a Noé, o prudente patriarca, que havia terra, vinhas possíveis e vida à vista. Sempre há, para quem sabe procurar, enxergar e cuidar!
É certo que depois virão, para Jesus, a traição, a tortura, a cruz e as trevas, a descida aos infernos – dores das quais nenhum de nós, em maior ou menor grau, escapa.
Mas o Domingo de Ramos é um fragmento da Páscoa, uma antecipação da Ressurreição, o reconhecimento dos outros – sempre efêmero.
Artimanhas da inconstância humana: em poucos dias o exaltado de agora será amaldiçoado. Olhe sua existência e o mundo: quantas vezes a mão que afaga é a mesma que apedreja? Quantas vezes essa mão agressora é a nossa?
O Domingo de Ramos é bonito e… passa, logo dará lugar à Sexta da Paixão. Mas tem em si também o que é perene: a reafirmação de que mais forte do que a morte é o amor.
PS: nesta manhã de Ramos foram presos 3 suspeitos de serem mandantes da execução covarde de Marielle e Anderson, há 6 anos. Um conselheiro do Tribunal de Contas do RJ (Domingos Brazão), um deputado federal (Chiquinho Brazão, MDB/RJ) e um ex-secretário de Polícia Civil (Rivaldo Barbosa). Todas altas autoridades, “homens de bem”. Não saudariam Jesus: estariam no Sinédrio, para condená-lo.
Hanna-Cheriyan Varghese, Malásia (1938-2009)