(breve reflexão para crentes ou não)
Esse domingo (de carnaval no Brasil) é também tempo de pensar na nossa postura dentro de uma sociedade excludente e injusta.
O evangelho de Marcos (1, 40-45), lido nas comunidades de fé, é de uma clareza contundente.
A lepra (que hoje denominamos hanseníase), naquela época, era uma doença que gerava tremenda marginalização social. Seus portadores eram expulsos do convívio humano e tinham até que andar com um sininho no pescoço para que ninguém se aproximasse. Isolados fora dos povoados, deviam gritar sua condição à menor aproximação de alguém. Um horror, uma condenação à morte lenta.
Jesus ouve o apelo do leproso (“se queres, tu tens o poder de me purificar!”), fica irado com aquela situação de marginalização, manifesta vontade e AGE: estende a mão, toca na pessoa e lhe restitui a saúde. Recomenda: “não conte nada para ninguém, apresente-se ao sacerdote, seja um testemunho”. Não queria idolatria.
Para resgatar a vida plena do outro, que sabia ser seu igual, rompeu as normas vigentes, quebrou tabus, repudiou a discriminação. Ouviu o clamor dos mais esquecidos, tidos como “escória”.
Com esse gesto libertador, nem nas cidades podia mais entrar: a notícia se espalhou e “de toda parte as pessoas iam procurá-lo”. Preferia o deserto, ficando mais próximo de todos os proscritos.
E nós, o que sentimos diante de tantos marginalizados da nossa sociedade? Que atitude temos para com eles? Qual é nosso empenho para mudar as estruturas do individualismo e da indiferença – que ampliam a quantidade dos à margem? Como reagimos diante daqueles que, usando o nome de Cristo, só pensam na “prosperidade” própria, negando seu exemplo, pregando a “fé em Jesus” mas distantes da fé de Jesus?
Com-paixão é sofrer junto, é estender a mão, é sentir na própria carne a dor do semelhante, açoitado por guerras, miséria, desemprego, desencanto. É combater a “doença” contagiosa do egocentrismo, de só ter olhos para si mesmo, prisioneiro das aparências. Compaixão é carregar em nós as dores e as esperanças da Humanidade.
Carnaval é festa gregária, de cantar o dom da vida, de celebrar junto com os outros a alegria de existir. E não nos impede de refletir: “Deus me proteja de mim/ e da maldade de gente boa/ da bondade da pessoa ruim/ Deus me governe e guarde/ ilumine e zele assim” (Chico César).
Sejamos sinal de saúde e paz para os outros, em especial os mais abandonados, os que agora estão sofrendo, morrendo, sendo bombardeados de mil maneiras.
Sliman Mansour (pintor palestino)