Nesse domingo, em milhares de comunidades de fé do planeta, ouve-se o chamado de Jesus a uma mudança radical de vida (Marcos, 1, 14-20).
Caminhando, na tristeza de saber que seu primo João Batista tinha sido preso (por denunciar os podres poderes de seu tempo), Jesus supera a dor chamando humildes pescadores para uma missão de grandeza: “pescar” pessoas.
Não para aprisioná-las em redes ou cestos, apodrecendo em asfixia (neuroses) e temores, mas para viver a dimensão libertadora do amor à Criação, da generosidade, na contramão dos valores dominantes. “Convertam-se e acreditem na Boa Notícia!”.
A Boa Notícia, ensinou Pedro Casaldáliga (1928-2020), é “a civilização da sobriedade compartilhada (…) É humanizar a humanidade: ecologicamente, pluriculturalmente, com todos iguais e diferentes na Casa Comum (…) É a compaixão solidária com os caídos à beira do caminho; a indignação profética frente aos ídolos de mentira e de morte; a convivência amorosa com todos os seres”.
Atender a essa convocação – como Simão e André, Tiago e João, e muitas mulheres precursoras, como Maria e Isabel, Eva, Madalena e Raquel – exige conversão a uma espiritualidade autêntica e arrebatada. Pensar grande, agir com delicadeza e firmeza de propósito.
Não como esses “ministros da Palavra” que, mesquinhos, reclamam, à frente de suas igrejas de negócios, que a Receita Federal cobre contribuições previdenciárias e imposto de renda sobre seus robustos ganhos remuneratórios. Querem mais privilégios, o que é um contratestemunho!
Não a “espiritualidade” materialista que abençoa e sacraliza a acumulação de capital, a especulação financeira, a prepotência, os preconceitos, as guerras destruidoras, a exclusão, a fome e a morte.
Quem se acomoda ao sistema das aparências, do consumismo, do individualismo como regra de vida está espalhando má notícia, e não Boa Nova.
“O tempo já se cumpriu e o Reino de Deus está próximo”. Trata-se de um desafio, não de uma ameaça. O passado é o que passou, só volta pela lembrança. O futuro é uma cogitação – Deus queira que de esperança. O que conta mesmo para nossa “metanóia” (conversão) é o presente: o tempo é hoje, o lugar é aqui!
Empenho coletivo: Jesus sabia que ninguém faz nada sozinho. Somos todos interdependentes; existir é em comum-união.
Há um sentido de urgência muito grande para salvarmos a nós mesmos e ao planeta. Solidariamente.
Sliman Mansour (pintor palestino)