OS SEUS DONS FRUTIFICAM OU ESTÃO ENTERRADOS E MORTOS?

Nelson Mandela

Neste domingo, em milhares de comunidades de fé espalhadas pelo mundo, é lida a “Parábola dos Talentos” (Mateus 25, 14-30).

À primeira vista, em percepção rasa (ou ‘fundamentalista’, ao pé da letra), pode parecer historinha de um Jesus “empreendedor”, ensinando como entesourar e lucrar.

Não é nada disso. Ele utiliza valores materiais da época (“talento” era a moeda de então e já vigorava a ideia de lucro, de ganho) para falar dos nossos valores espirituais, de partilha. Jesus, pedagógico, partia do imanente, do concreto, para chegar ao transcendente, que não enferruja nem apodrece.

Nessa parábola, o Mestre lembra nossa condição no mundo. Criados por Deus (nosso Deus é sempre um “Deus escondido”, como Alguém que nos deu o sopro da vida e viajou para bem distante), recebemos dons que devemos fazer frutificar.

Todos, sem exceção, nascemos com um potencial para o bem, para a generosidade, para a fraternura. PARA A INTEGRAÇÃO COM A NATUREZA, PARA O CUIDADO COM A TERRA, NOSSA CASA COMUM. Como fecundamos isso? Quem esquece esses dons, e “enterra seus talentos”, abre espaço para o ódio, o rancor, a amargura. Para os extremos climáticos que devastam as gentes.

Na sociedade da competição, da exclusão e do mercado total, muitos não têm oportunidade para desenvolver seus talentos. Nós também vamos nos acomodando à (des)ordem individualista vigente, e ficamos opacos, omissos, embotados, cinzentos…

Somos, por natureza, gregários. A vidinha do “cada um por si”, dos talentos enterrados, é uma negação da nossa vocação e traz infelicidade. Pablo Neruda (1904-1973) dizia: “continuo acreditando na possibilidade do amor. Tenho certeza do entendimento entre os seres humanos, logrado sobre o sofrimento, sobre o sangue e sobre os cristais quebrados”. Neruda queria ser “um poeta de utilidade pública”.

Em sua linda “Oração ao Tempo”, #caetanoveloso pede “o prazer legítimo/ e o movimento preciso (…) de modo que o meu espírito/ ganhe um brilho definido/ e eu ESPALHE BENEFÍCIOS”.

Como estamos cultivando nossos dons? Qual tem sido nossa “utilidade pública”? Que benefícios temos espalhado?

Nelson Mandela (1918-2013), enfrentando o racismo e a prisão, desenvolveu muito bem seus talentos (que nos inspire nessa véspera do Dia Nacional da Consciência Negra)

Compartilhe:

Facebook
WhatsApp
Twitter
Telegram
Email

Leia também:

São Pedro e São Paulo - El Greco (1541-1614) A conversão de Paulo - Caravaggio (1571-1610)

PEDRO, PAULO E NÓS

Neste domingo celebra-se a festa de São Pedro e São Paulo, apóstolos pilares do cristianismo.
Pedro e Paulo, tão diferentes. Pedro, rude e franco pescador. Paulo, estudioso escudeiro da lei judaica.
Pedro e Paulo, tão iguais: um nega Cristo três vezes, outro persegue centenas de cristãos.

Cristo na tempestade no Mar da Galiléia (por Rembrandt van Rijn)

SERENIDADE NA TORMENTA

O Evangelho lido hoje em milhares de comunidades de fé do mundo (Marcos 4, 35-41) mostra um Jesus “zen”, leve em meio ao peso do mundo. Dormindo na frágil embarcação sobre ondas revoltas.
Lição de vida nesse universo de temores, incertezas e ansiedades em que navegamos.

Fotos de Eduardo Ribeiro (horta em Santa Rosa de Viterbo/SP) e Igor Amaro (praça em Angra dos Reis/RJ)

SER SEMENTE, SOMENTE

Como Jesus explicava bem as coisas! No evangelho lido neste domingo em milhares de comunidades de fé pelo mundo (Marcos, 4, 26-34), o Mestre usa comparações bem compreensíveis (parábolas) para a multidão que queria ouví-lo.

Rolar para cima