(Breve reflexão para cristãos ou não)
Nesse domingo, comunidades cristãs do mundo inteiro, assustadas com mais uma guerra no Oriente Médio – terra onde o Jesus histórico viveu – ouvem mais uma parábola de alerta (Mt 21, 33-43).
Em síntese, Jesus interpela os sumos sacerdotes e anciãos do templo sobre o cuidado com nossas vidas e com o mundo. Fala sobre uma vinha arrendada, e sobre a morte violenta – precedida por expulsão e apedrejamento – dos que lá foram cobrar a sua parte.
Nós também recebemos uma dádiva: o dom da existência, que tem prazo de validade. Nossas vidas são como vinhas, ou como um terreno fértil, um jardim. O que estamos fazendo com ele, como o estamos cultivando?
No plano pessoal, temos deixado crescer as ervas daninhas da indiferença, do egoísmo, da acumulação, da desconfiança, do autocentramento? Elas acabam tomando conta de tudo, e agregando neuroses, pânicos, amargura…
Na dimensão social, que também nos constitui, temos cuidado, no mínimo que seja, de lutar por uma sociedade mais justa, equilibrada, zelosa da natureza, no caminho da justiça e da paz?
O jardim da vida humana no planeta está cheio de donatários assassinos. Papa Francisco, do último dia 4 (de S. Francisco de Assis), lançou uma Exortação Apostólica, “Laudate Deum”, chamando a atenção sobre o colapso ambiental que já vivemos.
“Este mundo que nos acolhe está se esboroando e talvez se aproximando de um ponto de ruptura”, bradou. No Brasil, a seca no Amazonas, nosso estado com mais corpos hídricos, e as chuvas jamais vistas no Sul, são exemplos dramáticos dos extremos climáticos. Se não devidamente enfrentados, inviabilizarão a vida no planeta!
Mais veneno letal: execuções sumárias e bárbaras, como a dos médicos no Rio, revelam desprezo ao ser humano e falência da Segurança Pública. E há as destruidoras guerras na Ucrânia, na Síria, em vários pontos da África, e a retomada violentíssima do conflito no Oriente Médio.
No momento em que você lê essa reflexão, vidas – inclusive de muitas crianças! – estão sendo ceifadas por mísseis. Milhares de israelenses e palestinos morreram e morrerão até que se viabilize o óbvio, determinado pela ONU há décadas: dois estados na região, com desocupação da áreas tomadas à força e fronteiras e culturas respeitadas.
O profeta Isaías (5, 7), na leitura de hoje , denuncia: “esperava frutos de justiça – e eis a injustiça; esperava obras de bondade, e eis a iniquidade!”
Façamos a nossa parte, para que a barbárie não triunfe de vez.
Cultivemos com ternura o nosso jardim. Apesar de tanta sombra, apesar de tanto medo.
Imagens: Mísseis impressionantes e mortais na noite do Oriente Médio (BBC); ‘Campo de papoulas’ impressionista e vital de Monet (1840-1926)