Nesse domingo, em milhares de comunidades cristãs do planeta, é relatada a parábola do “Filho pródigo” (Lucas, 15, 11-32). Pródigo quer dizer esbanjador, perdulário, sem freios.
Jesus, extraordinário educador, falava de situações concretas para explicar seu jeito de ver o mundo e de buscar o “Reino de Deus” – que começa dentro de nós, agora.
Aqui, conta a história de um homem que destina sua herança em partes iguais aos seus dois filhos. Um, em êxtase, sai pelo mundo dilapidando tudo e logo se vê sem nada, no sufoco. Outro, bem comportado, continuou trabalhando com o pai. Pois não é que o patriarca fez uma grande festa, com música, dança e banquete, quando o pródigo retornou? Ao avistá-lo de volta, maltrapilho e maltratado, “teve compaixão, saiu correndo, o abraçou e cobriu-lhe de beijos”. E ainda lhe presenteou com túnica, anel e sandálias. O filho bom e justo foi tomado por ciúmes e raiva. Mas o pai explicou: “você sempre esteve comigo, e o que é meu é seu. Mas seu irmão estava morto e tornou a viver, estava perdido e foi encontrado”.
Tod@s recebemos, com o dom da vida, um tesouro: a própria vida. É preciso, todos os dias, conferir como a estamos “gastando”. Quando nos ocupamos com futilidades, quando nos escravizamos aos “projetos” individuais, autocentrados, do ter mais que do ser, do consumo frenético, logo vem a insatisfação, o mau humor, a neurose. Bens materiais se esgotam rápido; prazeres efêmeros, sem a essência amorosa, também.
A sociedade capitalista, do afã pela acumulação, pela compulsão das mercadorias de última geração, de marca e da moda, produz seres humanos assim: pródigos, “fiéis” à cultura do descartável e do desperdício. Insaciáveis e… infelizes. Aliado a isso está a globalização da indiferença (a guerra na Ucrânia entra no seu 2º mês e na “rotina”. A miséria e fome de ao menos 1/3 da humanidade é naturalizada).
Por outro lado, tod@s também temos em nós uma ânsia de recomeço, de voltar às origens, à pureza infantil. Ela é bom alento para enfrentar o vazio da existência, que volta e meia nos atinge, sobretudo quando estamos esquecidos dos valores que lhes dão sentido, como a solidariedade diante das necessidades do outro e o cuidado com a Casa Comum, o planeta Terra.
Ainda bem que somos, qual filhos pródigos, capazes de tomar consciência de caminhos obscuros que possamos estar trilhando – como pessoas e como sociedade.
Felizes o(a)s que não perderam a capacidade de fazer revisão de vida (autocrítica) e recuperam o ânimo para – aprendendo com a dor e com as derrotas – sair dos becos sem saída. Sempre é possível!
É uma felicidade sentir-se “em casa, no aconchego” quando estamos no que vivifica, junto a quem queremos bem e com quem temos um ideal comum de vida. Na delicadeza do trato pessoal, no empenho por justiça, igualdade e cuidado ambiental no universo social.
Mudar de vida não é fácil, mas vale a pena. Nietzsche (1844-1900), filósofo alemão, que formulou ideias sobre o “Eterno Retorno”, disse que “a vida tornou-se-me leve, a mais leve, quando exigiu de mim o mais pesado”.
Vamos juntos, de bem com a vida, apesar de tudo e de nós mesmos. De volta pra casa, para arrumá-la, a fim de que tod@s, sem exclusão, possam se sentir bem.