A parábola de Jesus, relatada por Lucas (13, 1-9) e lida hoje em milhares de reuniões religiosas pelo mundo, parece referir-se aos nossos dias.
É uma resposta às tragédias, às fatalidades, às atrocidades do poder injusto. Trata do súbito e catastrófico corte que acontece, volta e meia, na vida das pessoas e das sociedades, ceifando vidas, gerando desespero.
Ontem como hoje, há quem tenda a considerar esses desastres “castigo divino”. Ou limite-se à importante busca de “culpados” (mas sempre distantes de nós). Ou, pior, fique no conformismo fatalista: “tinha que ser assim”. Vale para os 657.157 óbitos por Covid, vale para os mortos (em quantidade imprecisa) na guerra da Ucrânia e em outras partes do mundo (“não é comigo”), vale para as vítimas de acidentes evitáveis…
Jesus contraria a lógica esperada pelos que o interpelavam e propõe um outro caminho diante desses fatos: aprender com eles, mudar radicalmente de postura diante da fragilidade e do efêmero da vida. Tudo o que acontece, das derrotas pessoais às da Humanidade, nos apela à conversão de vida.
Didático, ele conta a linda parábola (em grego, “desvio do caminho”) da figueira estéril. A árvore nunca dava figos e corria o risco de ser cortada, pois estava “só sugando a terra”. Mas o agricultor quer mais tempo: “vou cavar em volta dela e adubar. Quem sabe, no futuro ela dará fruto?”.
A lógica da sociedade do lucro, do negócio, da desigualdade de oportunidades, do mercado total é a da eliminação dos “descartáveis”, dos “sobrantes”. É explorar o planeta além dos seus próprios limites (chegamos ao colapso climático!). A visão produtivista-individualista que nos envolve é a da cobrança permanente por resultdos “eficazes” (para quem?).
Essa parábola deve ser tomada como desafio geral e pessoal: o que temos feito para que as “figueiras” deem frutos? Temos adubado ou envenenado o planeta, tornado fértil ou estéril o “solo” da convivência humana?
Eu também me indago: que bons frutos tenho produzido, para que a VIDA – e não a morte, a indiferença, o desencanto, o “mundinho fechado”, o extermínio, a matança – prevaleça?
Acordar vivo – gracias! – é sempre mais uma chance que Deus nos dá – somos plantinha, arbusto, árvore adulta na floresta! – para florescermos e frutificarmos, mesmo em meio à aridez vigente. O tempo propício é aqui e agora!
Frutinhas boas no cerrado paulista – Sítio São João da Serra (arquivo pessoal)