UM DIA BRASILEIRO

Foi mais um dia “normal” – em muitas cidades, de calor intenso ou chuva torrencial. Um dia “normal” no país das anormalidades como regra.

Amanhecemos com a manchete: Câmara dos Deputados, a despeito do clamor nacional, aprova urgência para votar o projeto que permite mineração em terra indígena. É a legalização do continuado assassinato dos povos nativos. Urgente é mudar essa “representação” parlamentar “pra lamentar”, mais $en$ível aos intere$$se$ mercanti$ que ao canto da Terra. Outubro ou nada!

Quem foi à padaria ouviu outra má notícia, junto com o bom dia: “o pãozinho aumentou”. No supermercado, vários produtos deixados na gôndola, sem passar no caixa: o poder aquisitivo do brasileiro comum está em terrível baixa.

O dia terminou com as enormes filas nos postos de combustíveis: Petrobras fez o maior reajuste desde 2016, de até 24,9%. Essa bomba nas bombas – mais R$ 8 o litro da gasolina! – não afeta só quem tem carro. O “míssil inflacionário” chegará aos transportes públicos, aos alimentos e a todos os bens que os caminhões transportam. Atingirá o fogão e a mesa de todos nós.

O ainda presidente da República, como de hábito, se desresponsabiliza: chegando aos últimos meses de sua (con)gestão, diz que o governo, acionista majoritário da Petrobras, “não pode fazer nada não”. Sequer conter a privatização? É o campeão da terceirização dos problemas. Quem rugia como leão – “eu mando, eu faço e aconteço” – agora mia como gatinho, enredado no seguido tropeço.

O Congresso Nacional, com suas urgências seletivas, aprova célere medidas de emergência, que têm poucas chances de descer do papel para a vida real. Vivemos no país do improviso, nau sem rumo, sem planejamento de políticas públicas de previsibilidade que nos ponham a prumo.

Há também inflação de insensatez e incoerência. Nessa crise toda, a Petrobras vai votar mês que vem a distribuição de R$ 13,1 milhões aos nove membros de sua diretoria, num tal Prêmio por Performance (!?!). Calcula-se que seu presidente, general Luna, deverá embolsar R$1,45 milhão. A empresa vai bem e o povo vai mal? Como sempre, a crise não chega para todos…

Os conformistas justificam dizendo que “onde tem guerra está pior”. Só que num país com as riquezas e potencial do Brasil tudo poderia e deveria estar bem melhor. Já deu, né?

Desenho do Nando: o “bichinho de estimação” dos governantes e dos veneradores do “deus mercado”.

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