A Ucrânia é aqui? Guardadas as diferenças de tempo, espaço e equipamentos, sim: o Rio, acampamento militar fundado em 1o de março de 1565 (há 457 anos, portanto), era um “quartel” para a guerra da ocupação colonial portuguesa contra os rivais franceses e contra os primeiros donos da terra, os tupinambás (ou tamoios).
Os franceses ocupavam a atual Ilha do Governador (então chamada “do Gato”) desde 1555. A chegada da expedição de Estácio de Sá, sobrinho do governador geral Mem de Sá, os fez reforçar suas defesas e preparar um forte ataque.
As terras do “Novo Mundo” (novo para os europeus conquistadores) estavam divididas entre Espanha e Portugal, pelo Tratado de Tordesilhas (1494). Luís XII, da França, ironizava: “em que artigo do seu testamento Adão repartiu a Terra entre essas duas coroas?”.
No conflito colonialista, os índios resistiam, eram dizimados ou aliciados, viravam bucha de canhão. Mas quase ninguém fala de sua presença na história da nossa fundação – a não ser como aliados dos vitoriosos, os portugueses. Araribóia é o “bom selvagem”. Como em toda guerra, a grande massa dos nativos – maior vítima da conflagração – ficou anônima.
O povoado original, ao pés do Pão de Açúcar, ganhou o nome de São Sebastião, em homenagem ao rei menino D. Sebastião, que desapareceria em 1578, em batalha contra os muçulmanos, e seria mitificado. Tempos de espírito cruzadista, onde se matava e morria era “em nome de Deus”.
A matança era, como sempre, também “por dinheiro”: em meio a todos os perigos aqui (“entre o mar bravio e os índios ferozes”, relatou Estácio), a extração do pau-brasil prosseguia. E tanto portugueses quanto franceses mantinham o sonho do “Eldorado”, de encontrar o caminho dos metais preciosos.
Mas havia uma diferença daquelas guerras com as de hoje: os seus mandantes iam para o campo de batalha, como foi o caso de D. Sebastião. E também o de Estácio de Sá, que morreu em 1567, aos 47 anos, de males gerados por uma flechada no rosto.
Nossa bela e machucada cidade começou com sangue humano manchando a linda paisagem. De lá para cá, crescemos muito. Aprendemos a conviver melhor?
Viva o Rio! Não às forças da morte!
Invasores – Antonio Parreiras (1860-1937) – Museu Antonio Parreiras, Niterói – Wikimedia Commons