Mísseis e tanques da Rússia estão atacando a Ucrânia. Essa invasão – que Putin anunciou como sendo apenas contra “alvos militares” e em “apoio às províncias separatistas de Donetsk e Lugansk” – nos faz refletir sobre alguns pontos, para sair da simplificação “mocinhos x bandidos”:
1) Há raízes históricas para a instabilidade na região, desde o Principado de Kiev, no século X, origem do povo “rus”, junção de magiares, eslavos e vikings;
2) O Império Russo, que teve poderosos czares como Pedro, O Grande (século XVIII), englobava extensa área, incluindo a atual Ucrânia. Putin é saudosista dessa época;
3) A Revolução Russa de 1917 teve sensibilidade para reconhecer as diferenças regionais, culturais e linguísticas das regiões, daí a criação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS);
4) Putin, ex-KGB, agora defensor do sistema capitalista (com seus pendores czaristas e stalinistas), afirma que “a Ucrânia é artificial, uma invenção de Lênin”;
5) Há, na Ucrânia, províncias de fala russa cujo povo, em sua maioria, quer, de fato, vínculos estreitos com a Rússia, e não com a Europa Ocidental;
6) Toda guerra tem substrato econômico: petróleo, gás e trigo, produtos importantes tanto na Rússia quanto na Ucrânia, abastecem muitos mercados do mundo, a começar pela Europa – o gasoduto russo-alemão recém construído (sob críticas dos EUA), quando em operação, representará 60% do gás consumido no país germânico;
7) As restrições econômicas que os EUA e nações europeias anunciam contra a Rússia não terão efeitos devastadores para aquele país, que tem fortes e crescentes negócios com a China;
8) Na geopolítica internacional, o mundo não é mais bipolar; a OTAN – que quer filiar a Ucrânia, pois sem isso fica com suas forças militares imobilizadas – é herança da Guerra Fria. Embora não tenha mais como oponente o Pacto de Varsóvia (liderado pela extinta União Soviética), avança para criar um cordão de isolamento em torno da Rússia, fazendo prevalecer seus interesses;
9) O poderio militar da Rússia é incalculavelmente maior que o da Ucrânia: a ocupação não encontrará maior resistência, mas vidas humanas já estão sendo perdidas, inclusive, tragicamente, da população civil;
10) Em toda guerra, a primeira vítima é a verdade. Todos os lados envolvidos ou interessados só noticiam o que estrategicamente lhes interessa.
Diante desse cenário complexo e belicoso, é preciso insistir no imediato cessar fogo, na solução pacífica e negociada do conflito, no respeito à soberania dos povos, no repúdio a qualquer expansão imperialista, venha de onde vier.
Imagem Reuters/Sergey Pivarov – publicada em CNN Internacional