“A gente cria filho para eles enterrarem a gente, e não a gente enterrar o filho”, disse o pedreiro Josimar Silva, que perdeu a mulher Joyce, grávida de sete meses, e os filhos Bernardo, de 11 anos, e João Victor, de 9. Dor maior não há, e essa não é só de Josimar.
Ele foi mais um que escavava com as próprias mãos na busca desesperada dos seus entes queridos. Sem qualquer apoio oficial.
Armando, irmão de Joyce, completa a narrativa da agonia: “Domingo antes da tragédia teve o chá de bebê da minha irmã. Ela estava feliz, seria a sua primeira menina. Perdemos os quatro… Cada dia que piso aqui (bairro Chácara da Flora) é um pedaço meu que morre”.
Armando encontra forças para denunciar o desequilíbrio e a insuficiência das ações governamentais: “pelo Centro da cidade parece que não aconteceu nada. Eles estão preocupados com os locais onde circulam mais pessoas, enquanto nós ficamos presos nesse sofrimento sem fim”.
Aos dedicados bombeiros tem faltado suporte, cavadeiras, até alicates para cortar ferragens, diz Armando. Em Petrópolis, já são 195 mortos identificados, e ao menos 69 desaparecidos. Diante dessa tragédia imensa, só nos restam três atitudes:
1 – Solidariedade concreta, imediata – que está em curso e mostra que nem todos – como a família real e seu absurdo “laudêmio”, o “imposto do Príncipe” – estão acomodados em seus privilégios e bem estar;
2 – Cobrar políticas públicas continuadas de infraestrutura, saneamento, drenagem de rios, contenção de encostas e habitação popular, fora de áreas de risco;
3 – Saber que chegamos ao tempo dos extremos climáticos, e que, se não mudarmos nosso modo de produzir, distribuir, consumir e lidar com a Natureza, estaremos condenando o planeta Terra, nossa casa comum, ao desaparecimento.
Permitam-me uma observação de ordem pessoal: hoje, 23/2, completam-se 11 anos do falecimento (prefiro dizer “passagem” ou “transvivenciação”) de minha amada mãe. Sinto muitas saudades, como todos os que perdem pessoas queridas. Mas acredito na força cósmica de dona Nina, mulher de grande fé, e na sua mediação em “outro nível de vínculo”. Então, dialogo sempre com ela e peço que ela nos dê força pra seguir em frente, apesar da turbulência da viagem. Que as famílias enlutadas de Petrópolis encontrem consolo para prosseguir, apesar da terrível desgraça.
A arte sensível de Brum, publicada em 18/2/22, site Humor Político