Em 1988 foram 134 vidas perdidas na “Cidade Imperial”. Em 2011 foram 918 em toda a Região Serrana fluminense (mais 99 que desapareceram) – 71 em Petrópolis. Agora já são 104 pessoas – de 2 a 80 anos! – mortas e identificadas, mais ao menos três dezenas ainda não encontradas. Uma desgraça terrível.
Sim, foi a maior chuva em Petrópolis desde 1932, quando começou a medição. Mas parece que não aprendemos com a lição da natureza. A ação humana tem sido negligente, insuficiente: programas habitacionais que não saem do papel (após 2011, da previsão de construção de 7.235 casas ainda faltam 3 mil!); obras de controle de inundações, drenagem e recuperação ambiental na calha de rios foram paralisadas em 2014, só sendo retomadas ano passado; dos R$ 2,27 bilhões que o Ministério das Cidades – extinto por Bolsonaro – disponibilizou em 2011 para recuperar a região, apenas 50% foram utilizados pelas prefeituras (falta de planejamento adequado, entraves burocráticos na Caixa Econômica etc).
Boa parte do Plano de Redução de Risco de Petrópolis, que recomendava, há uma década, o reassentamento de 7.177 famílias – muitas residentes nas 102 áreas de risco do 1º distrito, o mais atingido ontem – ainda não saiu do papel.
Os extremos climáticos da atualidade exigem postura extremamente diferentes das autoridades e da sociedade, em todo o planeta. É preciso mudar radicalmente nosso jeito de lidar com a Mãe Terra. Transformar urgentemente nosso modo de ocupar o solo, construir cidades e vias, produzir, distribuir e nos alimentarmos. A sociedade da ganância, da especulação, do desmatamento e do veneno MATA!
Nesse momento, porém, o mais importante é cumprir o DEVER DA SOLIDARIEDADE. Essa consciência, felizmente, parece não estar anestesiada em nós. Entidades públicas e privadas, de muitos lugares e tamanhos, estão fazendo a sua parte. Petrópolis, ainda que devastada como se tivesse sido bombardeada numa guerra, se mobiliza, entre lama e lágrimas, solidariamente. E você, já fez a sua parte?
Cada cena chocante e trágica que continuamos a ver não deve apenas nos comover. Deve nos mover também.
Aqui no Rio, entre outras instituições, a Câmara Municipal, na Cinelândia (Palácio Pedro Ernesto), está recebendo doações, entre 9h e 18h. Como a Alerj, a OAB, a Fecomércio, unidades da PM e dos Bombeiros.
Foto Tânia Rego – Agência Brasil (publicada em Sul 21)