A morte entra devagarinho na vida da gente. Viver é lutar contra ela, contra tudo que nos enfraquece, derruba, tira razão e ânimo de existir. Tanto no plano pessoal quanto no social.
O Brasil vive tempos de morte. A morte assumiu o centro do poder político. São 636 mil famílias enlutadas pela Covid, os óbitos diários voltaram a subir acima de mil. Podia não ser assim!
As políticas públicas de Saúde e o SUS precisam ser revitalizados. O Ministério da Saúde não pode ser o do negacionismo e da doença, nem alimentar a medieval “cultura” antivacina.
A morte está nas incursões “para matar” em áreas pobres, sempre ceifando vidas, inclusive de policiais – sem inteligência, sem planejamento, sem o primordial em uma política de Segurança Pública: o controle de armas e munições, o combate efetivo ao seu contrabando. Há altos (e mortais) interesses nisso.
A morte está no armamentismo com estímulo oficial, para que cada um, individualmente, se defenda com uma arma letal.
A morte está no preconceito, que mata negros, mulheres, LGBTs e jovens pobres, vulneráveis por serem pobres e, por isso, “suspeitos”.
A morte está nas políticas de desmonte dos direitos, da proteção social e dos controles ambientais.
A morte está na aprovação do PL do veneno, que criou “licença temporária” para substâncias cancerígenas (já viu quais os deputados do seu estado votaram a favor e já já estarão pedindo seu voto para a reeleição?).
Outro dia Bolsonaro, num stand de tiro (é o lazer mórbido do presidente da República da Morte), não conseguiu destravar o gatilho. Há quem diga que ele dá constantes “tiros no pé”, ou que “erra o alvo”. Não procede: Bolsonaro está, tanto no aspecto simbólico quanto real, alvejando seguidamente o Brasil.
Mas nosso país agonizante, com tantas mortes absurdas e cotidianas, não morre: resiste, sobrevive. É preciso doar nosso sangue, gota a gota, para a urgente transfusão, que fará desse horror uma Nação.
“É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte”‘, alertaram Caetano e Gil, nos tempos em que “Tropicália” era pulsão de vida.
Amanhã tem encontro das forças vitais em São Gonçalo (RJ), pela manhã, na Praça do Zé Garoto, em solidariedade à família de Durval Teófilo, assassinado por “parecer bandido”. A cada ponto criminoso e letal, um contraponto por Justiça, contra a barbárie.
Arte de Santiago, site Extra Classe