Hoje, em milhares de comunidades cristãs do planeta, o trecho do Evangelho anunciado fala de… pescaria. Isso de buscar nas águas dos mares, lagos e rios – fontes da vida, que tanto maltratamos – a sobrevivência.
Jesus é um pedagogo: afasta-se da terra firme para, no balanço de um pequeno barco, ensinar. Quer mostrar, com isso, que existir é movimentar-se, é assumir nossa fragilidade, é saber se orientar no ir e vir das ondas e na dialética das marés.
Jesus é um prático: recomenda a Pedro e seus amigos, que estavam frustrados com uma noite virada sem resultados, a “ir mais fundo e lançar as redes”. Com essa insistência, a pesca foi abundante, farta e compartilhada.
“A Palavra de Deus não age em nosso lugar. (…) Não somos chamados a ficar estacionados no raso da praia, lamentando o eterno movimento dos barcos. A Palavra nos desinstala e nos coloca a caminho. Somos chamados para viver, avançar nas ondas e nas tempestades do mundo, e sempre recomeçar a pesca.”(Matersol – O Caminho da Beleza)
Papa Francisco, herdeiro da simplicidade e da missão dos primeiros “pescadores de gente”, nos exorta a “ir na contracorrente, pois faz bem ao coração”. “Falta-nos coragem”, compreende ele. Mas andar com fé supera medo e limitações: “não há dificuldades, provações, incompreensões que devam nos amedrontar, se ficarmos unidos a Deus como os ramos são unidos à vinha, se não perdermos a amizade com Ele”.
Somos todos pescadores provisórios, sobre águas ora calmas, ora revoltas. Temos levado nossos barcos para onde a vida pulsa? Nossas redes (de “captura” dos nossos semelhantes) estão mofadas por falta de uso ou rasgadas pelo desleixo, pelo egoísmo? Acumulamos ou distribuímos o que “pescamos”? Temos nos empenhado em “inventar o cais”, sabendo a vez, o sonho e a dor de se lançar?
“Pescadores” – Daniel Penna