Foram mais de 30 pauladas sobre o corpo caído de Moise Kabagambe. Elas seguem matando o Brasil, fazendo da Tropicália barbárie. Elas continuam doendo em quem ainda não perdeu sua humanidade.
A força raivosa dos assassinos do congolês brasileiro vem da insensibilidade e voracidade estúpidas que, cotidianamente, se manifestam entre nós. De mil formas, em maior ou menor grau, cresce aqui o “espírito (maligno) de milícia”.
É a “paulada” da mais alta autoridade do país que, diante do flagelo das águas que ceifou 11 vidas em Franco da Rocha (SP) – mais 7 estão desaparecidas – diz que “falta visão de futuro” para os moradores pobres, jogados ao abandono, no passado e no presente.
É a “paulada” da campanha obscurantista antivacina, que fez com que, até agora, apenas 39% das crianças entre 8 e 11 anos, no Rio, fossem buscar imunização – nesse cenário de aumento de 181% das mortes por Covid em duas semanas.
É a “paulada” de torcedores-trucidadores no jogo de futebol da Seleção, que se agridem estupidamente, arremessando uns contra os outros assentos arrancados no Mineirão.
É a “paulada” da devastação ambiental que, ano passado, consumiu mais 6.740 hectares da nossa acossada Mata Atlântica.
As pauladas que mataram Moise continuam sendo dadas, diariamente, perto ou longe de nós. O que temos feito para evitá-las?
Caetano Veloso as sentiu na sua própria arte: “Que o nome do quiosque seja Tropicália aprofunda, para mim, a dor de constatar que um refugiado da violência encontra violência no Brasil”.
É histórico. André Antonil (1649-1716), cronista do período colonial, no seu “Cultura e Opulência do Brasil”, escreveu que “costumam dizer que para o escravo, no Brasil, são necessários ‘três pès’: pau, pão e pano”.
Agostinho Neto (1922-1979), líder da independência de Angola, estadista e poeta, tinha visão de futuro: “O oceano separou-me de mim/ enquanto fui me esquecendo nos séculos (…) João foi linchado/ o irmão chicoteado nas costas nuas/ a mulher amordaçada/ e o filho continuou ignorante./ Mas do drama intenso/ duma vida imensa e útil/ resultou certeza:/ as minhas mãos colocaram pedras/ nos alicerces do mundo./Mereço meu pedaço de pão”.
Tod@s @s que nos indignamos com a barbárie temos um encontro marcado, no quiosque do horror (posto 8 da Barra da Tijuca), sábado, às 10 h. Para clamar por Justiça e um novo jeito, solidário, de conviver. Para que nosso repúdio à estupidez atravesse o mar azul e chegue ao Congo, aos nossos irmãos africanos.
Em SP será no MASP, tb às 10h. Coloque aqui outros atos de que tiver ciência, p.f. #justiçapormoise
Foto O Dia, “nublada”, “embaçada” como o olhar dos parentes de Moïse. Somemo-nos a eles, em busca da luz, de algum conforto, da superação!