Bolsonaro é uma espécie de “senhor feudal das armas”. Sua política de facilitação do acesso às armas de fogo – inspirada no “cada cidadão uma arma” da direita norte-americana – tem feito crescer o armamentismo de setores mais endinheirados da população. Favorece também o acesso à armas de fogo no varejão do tráfico de drogas ilícitas e das milícias.
No ano que passou, o Exército concedeu 388.138 registros para colecionadores, atiradores e caçadores (CACs) – mais de mil por dia! Em 2020 foram 218.509. Isso em plena pandemia!
Os negócios da bala são dos poucos que têm prosperado no Brasil. Cursos para atiradores, hoteis de luxo com espaço para “tiroterapia em família” (!!!), produtos de consumo com símbolos de fuzis ou munições, tatuagens de armas pelo corpo inteiro estão na moda…
Desde 2018, o governo Bolsonaro já editou 14 decretos, 14 portarias, editou duas resoluções e enviou dois projetos de lei flexibilizando o uso de armas de fogo. Na prática, “atira” no monopólio do uso desses instrumentos letais pela Forças Armadas e polícias – com poucas e cuidadosas exceções – como é próprio do Estado Democrático de Direito.
Para quem só vê “lazer” e “recreação” nesse armamentismo crescente, a prisão de um grande “colecionador”, que na verdade era um fornecedor de armas e munições para o crime (tráfico e milícia), devia servir de alerta.
Escreveu Ascânio Seleme (O Globo, 29/01/22): “o bandido dono do arsenal tinha 43 certificados de registro de armas de fogo fornecidos pelo glorioso Exército brasileiro, todos com a abundante permissividade introduzida pelo bolsonarismo. Trata-se do ciclo completo que prova para que servem os decretos de armas e munições de Bolsonaro”.
O slogan banal “Deus acima de todos” refere-se a um “deus” colérico, vingativo, truculento, do cada um por si, do outro como potencial ameaça. Como o “deus” das cruzadas medievais. Um “deus” da morte.