LEONEL BRIZOLA CENTENÁRIO

Há exato um século nascia Leonel de Moura Brizola, em Cruzinha, distrito de Carazinho, Rio Grande do Sul. Brizola é uma figura histórica muito importante no Brasil do século XX. Para mim, tem um significado especial: jovem professor de História, foi o primeiro “grande personagem” que estudara nos livros e conheci pessoalmente.

Brizola, para a minha geração, juntava essa dimensão contemporânea e histórica. Como gostava de dizer, “viemos de longe”. Representou o trabalhismo mais autêntico, de caráter progressista. Tanto que o articulador da ditadura, Golbery do Couto e Silva, operou para que ele, na volta do exílio, não ficasse com a legenda do PTB – até hoje totalmente degenerado.

Brizola nunca esteve imune a contradições e equívocos, mas sempre atuou no campo democrático e popular. Homem de convicções, jamais ficou trocando de partido, como é péssimo costume de uns tempos para cá.

Faz falta por suas qualidades: tinha enorme sensibilidade para os deserdados, priorizou de fato a Educação (nos dois estados que governou, RS e RJ) e não temia a polêmica – inclusive a da prioridade absoluta para as escolas de horário integral.

Brizola, com seu inegável carisma (ainda que centralizador), aproximou o povo da política, que não queria como “acerto por trás das cortinas”. No seu 2º governo no RJ decidiu compor com o fisiologismo chaguista na Alerj. Como contraponto a essa concessão, alertava para a necessidade de não apenas eleger o Executivo, mas uma base parlamentar significativa. “O governador promete/ mas o sistema diz não/ e a usura dessa gente/ já virou um aleijão”, cantou Gil, certamente inspirado nele…

Brizola nunca se orientou pelo ideário marxista (ao contrário de seu amigo Oscar Niemeyer), mas defendeu um impreciso “socialismo moreno”, cuja tradução era a implementação de políticas públicas para as maiorias. Darcy Ribeiro, com sua inteligência voraz, sempre foi seu fiel companheiro, instigador de utopias.

Brizola era demolidor contra seus adversários, sem perder o humor. Gostava de apelidar aqueles com quem competia: “gato angorá”, “rainha de Sabá”. Eu mesmo, ao disputar com Miro Teixeira (PDT) a prefeitura do Rio, fui qualificado como “pangaré” – bom só de largada (não foi o que as urnas mostraram…). Mais tarde, amistoso, ele me prometeu um “insuperável arroz a carreteiro”, que infelizmente sua morte surpreendente (foi muito discreto na doença) não possibilitou.

Na quadra medíocre que o Brasil vive, cabe lembrar Brizola: política é posição, projeto de Nação, embate (civilizado), denúncia de privilégios, superação das desigualdades.

Ato pelo Saneamento Básico na Baixada Fluminense (anos 80)

Compartilhe:

Facebook
WhatsApp
Twitter
Telegram
Email

Leia também:

São Pedro e São Paulo - El Greco (1541-1614) A conversão de Paulo - Caravaggio (1571-1610)

PEDRO, PAULO E NÓS

Neste domingo celebra-se a festa de São Pedro e São Paulo, apóstolos pilares do cristianismo.
Pedro e Paulo, tão diferentes. Pedro, rude e franco pescador. Paulo, estudioso escudeiro da lei judaica.
Pedro e Paulo, tão iguais: um nega Cristo três vezes, outro persegue centenas de cristãos.

Cristo na tempestade no Mar da Galiléia (por Rembrandt van Rijn)

SERENIDADE NA TORMENTA

O Evangelho lido hoje em milhares de comunidades de fé do mundo (Marcos 4, 35-41) mostra um Jesus “zen”, leve em meio ao peso do mundo. Dormindo na frágil embarcação sobre ondas revoltas.
Lição de vida nesse universo de temores, incertezas e ansiedades em que navegamos.

Fotos de Eduardo Ribeiro (horta em Santa Rosa de Viterbo/SP) e Igor Amaro (praça em Angra dos Reis/RJ)

SER SEMENTE, SOMENTE

Como Jesus explicava bem as coisas! No evangelho lido neste domingo em milhares de comunidades de fé pelo mundo (Marcos, 4, 26-34), o Mestre usa comparações bem compreensíveis (parábolas) para a multidão que queria ouví-lo.

Rolar para cima