Nesse primeiro domingo do ano celebra-se, em milhares de comunidades cristãs do mundo, a festa da Epifania, isto é, manifestação do divino no humano.
Epifania vem da tradição grega – revelação, percepção do extraordinário no ordinário, transformação súbita – assimilada pelo cristianismo: a inspiração que permite ir além do imediato, a visão do Invisível.
O trecho do Evangelho lido (Mt, 2, 1 a 12) conta a viagem dos magos do Oriente, seguindo a estrela guia. Fala do poder de Herodes, dos sacerdotes e doutores da Lei, intrigados com aquele Menino “fora de lugar”. E, astutos e hipócritas, querendo eliminá-lo. Fala da sabedoria dos magos e da sua alegria, sempre seguindo a estrela, ao encontrar a Divina Criança. Na pequena e esquecida Belém de Judá, improvável local para o surgimento do Príncipe da Paz, Daquele que renova todas as coisas. Menciona, por fim, a sagacidade dos três peregrinos, que driblam os genocidas (donos da verdade e do Império), “voltando por outro caminho”.
Nesse 2022 que se inicia cabe nos indagarmos, cada um(a) no seu íntimo, como anda nossa capacidade de Epifania, de mudarmos de rumo, de maravilhamento com tudo que nos cerca, com o continuado dom da vida. Inclusive nos momentos mais sofridos: “dor é vida exacerbada, vir-a-ser é uma lenta e lenta dor boa” (Clarice Lispector, 1920-1977).
O desafio é ser epifania também no rotineiro, sentir a Eternidade no miúdo: o cheiro bom do café, o pão repartido, a flor do caminho. Epifania é tratar todas as criaturas com carinho, a começar pelos nossos mais semelhantes, oferecendo-lhes – e deles recebendo – o ouro do conhecimento (ciência é epifania!), o incenso da elevação (somos terra e céu, imanência e transcendência), a mirra que ameniza as dores de existir.
É nisso que reside a felicidade, a inspiração, a presença silenciosa de Deus em nossas vidas. Adélia Prado, outra extasiada com epifanias, poemou: “a borboleta pousada/ ou é Deus ou é nada. (…) Meu Deus, me dá cinco anos, me cura de ser grande”.
Alegria, alegria!
Esse é o Santiago, que se autoapelida de “Tatau”. Epifania!