Sérgio Moro foi “herói nacional salvador da Pátria” por muito tempo. Como se as decisões individuais de um juiz solucionassem de vez a corrupção estrutural, sistêmica que há no Brasil. (Sem absoluta transparência e controle popular na gestão pública, em todos os níveis e instâncias, esse cupim da República continuará ativo).
Depois a máscara caiu. Primeiro ao assumir o apoio a Bolsonaro e a disposição de ir para o seu governo, como de fato ocorreu. A suposta “imparcialidade” ruiu. No Ministério, blindou as falcatruas da “famiglia” até não poder mais. Tendo perdido a função de magistrado, foi para os EUA (seu modelo civilizatório). E tratou de se virar na vida privada, como sócio-diretor da Consultoria Alvarez & Marsal.
Claro conflito de interesses: o ex-juiz “ganha a vida” em empresa que faz ou fez a recuperação judicial da Odebrecht, da OAS e da Sete Brasil, para cuja insolvência ele contribuiu. Devia pedir “escusas” e não aceitar a função, por pudor ético.
Agora, pré-candidato a presidente, defende até o financiamento que o doleiro Albert Youssef fez para seu chefe político no “Podemos”, partido de direita ao qual se filiou. Mais integrado ao sistema impossível.
O TCU determinou, a pedido do Ministério Público, que os ganhos de Moro na Consultoria sejam revelados. A “sua” empresa faturou, só no caso Odebrecht, R$ 17,6 milhões. Aguarda-se essa informação com o mesmo interesse que a sociedade tem em relação aos gastos milionários do cartão corporativo de Bolsonaro.
Bolsonaro, mesmo passeando nos mares do Sul (“triste Bahia, o quão dessemelhante!”), sempre responde com xingamentos. Mas Moro, até aqui mais polido, vai ficar rouco e desafinado de tanto tentar explicar tamanhas incoerências.