Lucas Matheus, 8 anos. Alexandre Silva, 10. Fernando Henrique Santos, 11. Iguais – na singularidade de cada um – a milhões de crianças desse Brasil: meninos pobres, negros e… traquinas, travessos, que enfrentavam com alegria própria da infância a dureza da vida em Belford Roxo, na Baixada Fluminense.
Não, não está certo eles terem suas vidinhas ceifadas da forma mais cruel por terem furtado dois passarinhos engaiolados! É inadmissível que eles tenham sido torturados, como “castigo”. E que, como um deles não resistiu, os outros tenham sido executados, com os três corpinhos jogados num rio – como concluiu inquérito de quase um ano da Delegacia de Homicídios da Baixada.
Toda barbárie – de traficantes, no caso, aponta a investigação – tem que ser repudiada com a maior veemência. Esse despotismo armado – de quem quer que seja – arruína o que ainda temos de civilização!
O julgamento e a justa condenação dos responsáveis pela tragédia da Boate Kiss, que matou 242 jovens em Santa Maria (RS), está nas manchetes. “Que nunca mais se repita!”, disseram, a uma só voz, os familiares enlutados, após 8 anos de espera.
A dor igualmente profunda de pais e parentes dos meninos de Belford Roxo, que não tiveram sequer o direito de sepultar suas crianças, está abafada pelo medo. E vai sumindo do noticiário. Resta a voz da tia de um deles, que desistiu de vê-los de volta para suas humildes casas neste Natal: “estamos sentindo dor, tristeza, revolta e ódio – tudo ao mesmo tempo”.
Esse é o terrível epílogo da história de três meninos pobres, nossos conterrâneos e contemporâneos. O horror! Coloquemo-nos no lugar de seus desolados parentes. Não fiquemos indiferentes! Em memória dos que não tiveram direito de crescer, não deixemos de lutar para fazer dessa vergonha uma grande e justa Nação.