“A vida não me vinha pelos jornais nem pelos livros, vinha pela boca do povo, na língua errada do povo, língua certa do povo”, evocou Manuel Bandeira (1886-1968) a sua Recife…
Nesse tempo de tantas palavras vazias e mentirosas – ainda que ditas ou grafadas com correção – o professor Pasquale Cipri Neto conta “causos” deliciosos do nosso idioma:
“HOJE É DOMINGO, PÉ DE CACHIMBO… e eu ficava imaginando como seria um pé de cachimbo, quando o correto é ‘hoje é domingo, pede cachimbo’ (fumar um cachimbo). E tem o PÉ-DE-MOLEQUE. O doce caramelizado de amendoim estava esfriando na janela. A molecada roubava, e a cozinheira gritava: ‘não precisa roubar! Pede, moleque!’. (…) Esse menino não para quieto, parece que tem BICHOCARPINTEIRO! Que bicho é esse, que pode ser carpinteiro? O correto: esse menino não para quieto, parece que tem bicho… no corpo inteiro!”.
Professor Pasquale resolveu essas dúvidas da infância ainda jovem, provavelmente. Eu, só agora, “burro velho”. E você?
Outra que aprendi há poucos dias vem dos versinhos de criança: batatinha quando nasce não “esparrama pelo chão”, e sim “espalha a rama” pelo chão. Batata é um tubérculo; não pode, debaixo da terra, se espalhar pelo chão. Também não existe “cor de burro quando foge” – que é a mesma de quando ele está pastando. É “corro de burro quando foge”. O correto não é “fulano é o pai, cuspido e escarrado” – o que, convenhamos, é meio nojento. O certo é “esculpido em carrara” (o mármore). “Quem não tem cão caça com gato?”. Mas gato vai, como cachorro amestrado, caçar o que seu “dono” mandar? “Nós gatos já nascemos livres”… lembra dos Santimbancos? Na origem, o provérbio popular é: “Quem não tem cão caça como gato”, isto é, se vira sozinho.
Mas essas expressões “erradas” já estão consagradas pelo uso. Então fico naquela de “Entendeu? Então não sacrifica!”.
Viva o português falado no Brasil. Viva a sabedoria dos ditos populares!