Hoje é celebrado, em muitas comunidades cristãs do mundo, o início do Advento. Tempo de espera, de expectativa pelo que há de vir. Preparação para o tempo do Natal.
Na tradição popular, é o dia em que se arma a árvore – para ir sendo ornamentada aos poucos – e se monta o presépio, ainda sem o Menino Jesus. É acesa a primeira vela da Coroa do Advento. (Re)nascer na luz exige cuidadosa e terna preparação.
A leitura do Evangelho (Lc, 21, 25-28 e 34-36) soa como alerta: toda devastação, todo desespero, toda turbulência – como estão presentes hoje! – é um sinal, um aviso, um toque nas nossas consciências. “Quando essas coisas começarem a acontecer, levantem-se e ergam a cabeça, porque a libertação está próxima!”.
Diante da dor, do sofrimento e das perdas podemos ficar cabisbaixos, resignados, derrotados. E até entrar na depressão. Victor Hugo (1802-1885) chegou a dizer que “a vida não passa de uma longa perda de tudo o que amamos”. Ser pessimista é uma escolha (que, diga-se, não foi feita pelo escritor francês, militante das causas da justiça e contra a miséria humana a vida inteira).
O desafio do tempo do Advento é fazer nascer em nós a Esperança. Toda árvore que brota, floresce e frutifica é sinal dela. A cena do presépio, à espera da Eterna Criança, é um louvor à humana acolhida.
Jesus refere-se à “volta do Filho do Homem”. É o ideal de uma Humanidade redimida, livre de toda exploração, desigualdade e crueldade. Horizonte utópico que nos faz caminhar: a vida pode ser, sim, um continuado encontro. “Fratelli tutti!”, todos irmãos, repetiu papa Francisco o chamado do pobrezinho de Assis.
Advento é isso: atenção aos sinais na trajetória, busca do renascimento interno, comunhão para não desanimar, teimosa alegria de viver – apesar do inevitável pranto. Caminhada de reencontro.
Advento é o que advém em cada um de nós: pede atitude, iniciativa, “ventre” disponível para acolher o bom, o belo, o justo, o fraterno. Rainer Maria Rilke (1875-1926), poeta, testemunhou: “tudo aquilo em que ponho afeto fica mais rico e me devora”.
Percebamos os sinais. Deixemo-nos “devorar” por tudo o que, amorosamente, chega até nós.
Vincent Van Gogh (1853-1890). Os desafios do mar e de amar.