O tempo não para. O(a)s que sobrevivemos à devastação da Covid – todo cuidado é pouco, pode vir nova onda! – olhamos com alguma alegria o calendário e o fato de vislumbrarmos mais um Natal – que, para crentes ou não, é celebração da vida. “O amor não tem idade, está sempre nascendo”, disse Blaise Pascal (1623-1662).
Olhar o mundo ao nosso redor é um imperativo, pois ninguém vive sozinho. E, nesse plano, o mais aparente não traz nada de novo.
A quatro semanas do Natal, mais que a gasolina que faltou até no carrão de R$ 500 mil de Roberto Carlos (!), há quatro “continuidades” nefastas, nada “natalinas”, que exigem de nós atenção crítica:
1) O presidente da Câmara dos Deputados, bolsonarista, manipula à vontade o espúrio Orçamento Secreto. Só para a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco e do Parnaíba, que “irriga” o Nordeste com verbas públicas, destinou R$ 83,9 milhões, distribuídos a aliados, apadrinhados. A Codevasf tem como superintendente em Alagoas, estado mais “beneficiado”, um primo de Arthur Lira;
2) Avança na Câmara dos Deputados a proposta que reduz a aposentadoria de ministros do STF para 70 anos (atualmente é de 75). O “casuísmo” é evidente: pretende-se que Bolsonaro, até o fim de seu mandato, possa nomear mais 2 ministros, que ficariam lá como “olhos e ouvidos do rei”, a exemplo de Kássio Nunes;
3) A prefeitura de SP determinou, finalmente, a retirada daquele “touro de ouro” ridículo – imitação do de Wall Street, em Nova York – do calçadão em frente à Bolsa (B3). A “obra de arte”, promocional e propagandística (tinha até o nome da empresa que pagou o “engenho”), foi colocada na via pública sem qualquer respeito às normas municipais. Os adoradores de “bezerros de ouro” criaram um problema, afrontando a situação de miséria crescente. Desperdício de tempo, dinheiro e inteligência;
4) Após a chacina no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo (RJ), resultado de uma “operação de estabilização” (leia-se vingança pela morte, sempre deplorável, do sargento PM Leandro Silva), moradores ainda procuram parentes desaparecidos no manguezal da área, de onde já foram retirados 8 corpos. Mas a mortandade vai sumindo do noticiário. Afinal, “a dor do pobre não sai no jornal”.
O que isso tudo nos diz? Que existir é também batalhar, no dia a dia, para que a realidade, no que tem de cruel e nociva, possa mudar. E isso cabe a cada um de nós: ver, julgar, agir.