ESCULHAMBAÇÃO PARTIDÁRIA

Partido, em qualquer sociedade, é instrumento de organização da vontade coletiva de classes e grupos para, ocupando espaços de poder, implementar políticas públicas. Sem ele não há democracia.

É mesmo? Em tese, sim. No Brasil, raramente. O que se vê, na nossa democracia tantas vezes formal e banal, são 33 partidos políticos que, na sua maioria, reúnem interesses de grupos econômicos e fisiológicos (inconfessáveis) para colocar o aparato de Estado ao seu dispor.

Quase todos os partidos, entre nós, são ajuntamentos de defesa de bens particulares ou carreiras individuais, e não do bem comum e do querer coletivo. Sem doutrina, sem ideologia pra viver. Controlados por caciques ou chefetes com votos. Voltados unicamente para as eleições. Beneficiários da corrupção sistêmica, do “orçamento secreto” e outras tenebrosas transações.

Partido virou negócio lucrativo. O poder corrosivo da grana compra “princípios” e “projetos”. Os Fundos Partidário e Eleitoral – oferecido de acordo com o número de deputados federais de cada legenda – são bilionários. Só o PSL, partido pelo qual Bolsonaro se elegeu, pegou, na “boca do caixa”, R$ 359 milhões ano passado, R$ 9 mi a mais que o PT, com sua grande bancada. Ano que vem serão nada menos que R$ 5,7 bi para o “rachuncho”. Não por acaso, um mandato de deputado federal está “precificado”: traz tal soma em grana para os cofres partidários.

Daí o “leilão” em que Bolsonaro se coloca para entrar no seu 9º partido. Toma-lá-dá-cá descarado, controle de diretórios e tesourarias, acerto sobre quem manda mais. Uma mixórdia total, movida a dinheiro e poder.

Na chamada esquerda os interesses menores e personalistas também chegam. Há “movimentações” partidárias por mero cálculo eleitoral: no pragmatismo dos tempos atuais, tem quem ache que “é melhor ganhar feio do que perder bonito”. Às favas com os ideais de aposta na organização popular, no trabalho de base, no debate democrático e horizontal sobre alternativas e ressignificação do socialismo. Para alguns individualistas, militante partidário cobra demais, “dá trabalho”… Na hora do ego, o gregário não tem vez.

Nesse quadro de deterioração, o PSOL, partido ainda pequeno mas com vocação de grandeza, tem um papel a cumprir: o de mostrar, a todo momento, que política se faz com ideias e causas, com visão de mundo, de país e de cidade, com horizonte utópico, coerência e vontade, sempre vinculando suas figuras públicas ao trabalho de formiguinha da base – sem o que não se muda a sociedade.

É rima e solução, tanto que o PSOL (o TSE atesta) foi o único partido que não perdeu filiados em 2021. O número dos que ingressaram, conscientemente (para nós, crescer não é “inchar”), é maior do que o dos que saíram – aliás, nenhum criticando o partido, ainda que nem sempre explicando as razões para a troca de agremiação…

Vale a pena resgatar a Política (com “P” maiúsculo). Como dizia Agostinho Neto, líder da independência de Angola, “temos falhas e não podemos nos achar os melhores: nossa causa sim, é melhor e mais justa”.

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