O fanatismo é aqui. E a paixão irracional pelo futebol reúne, nas torcidas distorcidas, enormes perversidades. Retrato da sociedade contemporânea.
Bruno do Nascimento é um menino de 9 anos, que gosta muito do Santos F.C. e, sobretudo, do futebol. Aprendeu que ali na sua cidade surgiu o time mágico comandado por Pelé, muito depois aquele com Diego e Robinho, e o de Neymar… Bruninho se encanta, como tantas crianças, com esse universo simbólico de “heróis” reais nos jogos coletivos.
Eu, menino, colecionava a “Revista dos Esportes”, e, flamenguista raiz, admirava também craques de outros times e a beleza de outras camisas.
Pois Bruninho cometeu a “heresia”, para certos torcedores (ou pior, trucidadores), de pedir a ganhar a camisa de um goleiro do Palmeiras. Ele e seu pai foram cercados por fanáticos pedindo satisfações, “condenando” a atitude e ameaçando a ambos. O assédio agressivo fez com que Bruno, assustado, gravasse um vídeo se explicando e pedindo desculpas!!!
Menos mal que alguns ídolos do futebol tenham apoiado a criança, como Pelé: “Você não precisa pedir desculpas (…) Nosso esporte é lindo, mas seria melhor se todos os torcedores tivessem o seu coração”. Neymar foi direto (“esse vídeo é coisa que nenhum babaca que te xingou tem coragem de meter a cara”), Gabigol prometeu enviar sua camisa rubro-negra e a própria diretoria do Santos convidou Bruno e seu pai para assitir ao próximo jogo do clube.
Na política dos “mitos” e das fakes, dos retrocessos medievais e dos ressurgimentos dos nazifascismos também tem sido assim. O argumento da força superando a força dos argumentos, o ódio redutor no lugar do diálogo construtor. A “normalização” das discriminações, a “naturalização” das opressões. O fanatismo negando a ciência e a própria vida.
É hora de reagir! Vamos opor à escalada da estupidez a racionalidade – paciente e pedagogicamente. Sem perder a paixão, sem recuar nas convicções, mas não permitindo que elas abafem a compreensão e o respeito às diferenças.