Nesse domingo, comunidades cristãs ouvem a belíssima lição das “Bem-aventuranças” (Mt 5, 1-12). Trata-se um “roteiro” que Jesus de Nazaré e da gente traça, para se alcançar o maior desejo de qualquer ser humano: o da felicidade.
Quando crianças, alguns de nós fomos “educados” nos “passos da Paixão de Cristo”, todas aquelas torturas e dores que Ele sofreu no caminho do calvário, da cruz. Impunha-se uma religiosidade sombria, tristonha.
Esquecia-se que o martirizado pela crueldade do poder religioso e político era o mesmo que tinha pregado o “Sermão da Montanha”, falando, para multidões, de alegria aqui e agora, de vida plena.
A “receita” é simples, mas vai na contramão dos valores dominantes, daquela época e de agora. Felizes serão o(a)s que, em meio à soberba e à autossuficiência, forem “pobres em espírito”, isto é, simples, despojados, humildes. A(o)s que, não fugindo das realidades, como tantos, se afligem com elas, e as enfrentam. O(a)s que, nessa quadra de tanta agressividade e virulência, conservam a mansidão. A(o)s que, na sociedade da ganância, têm fome e sede de justiça. O(a)s que, no tempo da insensibilidade egoísta, são misericordiosos. A(o)s que, cercados de falsidades e mentiras, mantém a pureza do coração. O(a)s que, em meio a guerras e destruição (também ambiental), promovem a paz e teimam em semear. Felizes são todo(a)s os perseguidos, insultados e calunidados pela força degenerada do ódio – que jamais triunfará definitivamente.
A felicidade a que Jesus se refere é existencial, sentida no dia a dia e na esperança que nos reanima. Tem muitos nomes e se concretiza em possuir o “Reino do Céu” – que começa entre nós. Em consolo, terra para todos, misericórdia, visão de Deus (o Todo Poderoso Amor, Pai & Mãe).
Felicidade é sabermo-nos continuadores, na nossa pequenez, fragilidade e brevidade, de quem nos antecedeu, no anonimato ou no reconhecimento público, na luta por Justiça, Igualdade, Paz, Solidariedade e Cuidado com a nossa Casa Comum. Felizes o(a)s que são dessa linhagem e dão sentido à Humanidade!
Nenhuma vida assentada nesses valores se perde. Ela brilha nos gestos miúdos (“De tudo o que fazemos de sincero e bem-intencionado algo sempre fica”, escreveu Florbela Espanca, poeta portuguesa, 1894-1930). E é contentamento coletivo nos grandes movimentos de libertação, contra todas as opressões.
Felizes o(a)s que, apesar de tudo, encontram razões para a alegria!
Jan Brueghel (1568-1625) – “O Sermão da Montanha”