Finados ajuda a refletir sobre nossa finitude. Somos feitos pra acabar, por isso as atitudes de grandeza, justiça e generosidade têm que caber na nossa breve existência. Somos inconformada ânsia de eternidade, livres da mediocridade: o que semeamos é nossa herança maior.
Finados é dia de lembranças das “metades amputadas” de nós. Somos os nossos amad@s que se foram. Todo dia penso neles – pais, tios, primas, sobrinhas, parentes, tanto/as AMIGO/AS tão querido/as. Choro e acendo velas imaginárias e deposito flores nos pequenos túmulos das alamedas esquecidas da minha alma, onde seus nomes estarão inscritos enquanto fizermos valer o que com eles e elas aprendemos.
Mas tem o vazio daquela voz que não mais ouviremos e as risadas encerradas e o fim das emocões e jornadas compartilhadas e o calor das mãos que não mais nos tocam. “Ruptura drástica da forma”, lamentou Hélio Pellegrino (1924-1988).
Rebeldes, insistimos no desejo louco do Grande Reencontro, cremos no Mistério! E na mania imediatista de já revê-los, na borboleta do caminho, no sonho solar e noturno, na gota de orvalho, na letrinha manuscrita no velho caderno, na canção que comove, na lua que desponta no alto da colina. Nossos mortos nos visitam, em vivas cores!
Thiago Damato é um amigo poeta, místico franciscano. Ele ontem me enviou uma poesiaprece de presente, que termina em profissão de fé : “Os rostos ressuscitados dos que já partiram/ comovem-me e colorem um vitral/ que o mundo jamais verá./ No altar do meu coração/ celebra-se o martírio da saudade de cada dia./ E como testemunho desta eucaristia infinita/ comungo da presença de quem já se foi./ Resta apenas uma certeza: o Amor jamais perece/ pois perene é a esperança da ressurreição”.
Bordadeiras cerzem os nomes dos mais de 608 mil ceifados pela Covid e pelo necropoder