Hoje, último domingo de outubro, é anunciada, em milhares de comunidades cristãs do mundo, a Lei Maior (Mc 12, 28-34): “amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.
Dois em um, três indagações fortes para o nosso aqui e agora:
1) no mundo materialista ao extremo em que vivemos, onde as coisas, os objetos imperam, fazemos a hierarquia entre o que é passageiro e o que é perene, entre as coisas e Deus, entre o dinheiro e as pessoas?
2) gostamos de nós mesmos, sem delírios de autocentramento e vaidades, entendendo que autoestima saudável gera capacidade de estima? (“Não quero ferir meu semelhante, nem por isso quero me ferir”, canta Beto Guedes em “Sal da Terra”);
3) já aprendemos que perceber e amar o outro – aquele que é diferente de mim (e tem iguais direitos) – é a única forma de realizar plenamente o mandamento do Amor? “Eu sou porque nós somos”, diz um provérbio africano, dos povos de língua bantu #filosofiaubuntu.
A Lei Maior do Amor “impõe” simples e agudo sentido de vida. Ela nos indaga onde temos colocado nossa vontade cotidiana, se em coisas perecíveis ou em valores que nos transcendem…
Nesse 31 de outubro, há 119 anos, veio ao mundo o poeta Carlos Drummond de Andrade. Agnóstico, esse mineiro versejou a vida e suas belezas supremas, que moeda alguma compra. Drummond nos alertou para o essencial de ser gente:
“Que pode uma criatura senão/ entre criaturas, amar? Amar e esquecer, amar e malamar/ Amar, desamar, amar?/ Sempre, e até de olhos vidrados, amar?/ Que pode, pergunto, o ser amoroso/ Sozinho, em rotação universal, senão/ Rodar também, e amar?/ (…) Este o nosso destino: amar sem conta/ Distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas/ Doação ilimitada a uma completa ingratidão/ E, na concha vazia do amor, a procura medrosa/ Paciente, de mais e mais amor/ Amar a nossa falta mesma de amor/ E, na secura nossa, amar a água implicita/ E o beijo tácito, e a sede infinita.
Foto: Comunidade na alegria da partilha