“Não vim aqui para me aborrecer!”, respondeu Bolsonaro, irritado, no último fim de semana, quando passeava de moto no litoral paulista. Não gostou da pergunta de uma jornalista sobre a marca trágica dos 600 mil mortos na pandemia – que dissera ser “gripezinha”. Mortes frente às quais já indagara “e daí?” e afirmara “não sou coveiro”, “chega de mimimi, vão ficar chorando até quando?”.
Na capital de São Paulo, o cantor e compositor Criolo, ao perder a irmã Cleane, de 39 anos, para a Covid, compôs um manifesto-canção tocante em sua homenagem:
“Talão azul de jazigo pequeno/ faz arminha pra pretos morrendo (…) Esse sangue pisado não é açaí/ mataram inocente, granola e caqui/ (…) Na praia da morte do grande vizir/ um tiro na cara, um tiro na nuca/um tiro no amor, outro na cultura/(…) Não é filme de Rambo, Brasil tá sangrando/ essa brisa não bate bala de veneno”.
Somos a nossa atitude diante do outro. Ser é ser-com-os-outros, na dor e na alegria. Somos empatia. O contrário é o egoísmo, o autocentramento sem sul ou norte: a morte.
Criolo completou, doído: “a pandemia nunca vai passar para quem perdeu um ente querido”. Nando desenhou nosso doloroso espanto: