Essa afirmação contundente de Jesus é ouvida hoje em milhares de comunidades cristãs do mundo. E você, é rico de quê? O Evangelho de Marcos (10, 17-30) relata um diálogo entre Ele e um homem muito rico e religioso. Prostrado diante de quem chama de “Bom Mestre”, o homem pergunta o que deve fazer para “herdar a vida eterna”. Todos temos ânsia de permanência, de duração, de perenidade, de alegria sem fim.
Jesus, olhando “com amor” para seu interlocutor, relembrou-lhe a lei mosaica: não matar, não roubar, não desrespeitar o outro(a), não mentir… O homem piedoso e abastado afirmou já cumprir todas essas normas. Jesus, então, faz o desafio mais radical (no sentido de ir à raiz da existência): o do despojamento, da partilha com os necessitados – o desapego dos bens materiais e de si mesmo.
Diante dessa proposta ousada, aquele que buscava, angustiado, saciar sua fome de sentido para a vida, “ficou abatido e foi embora triste, pois tinha muitas propriedades”. Escolheu ficar na sua zona de conforto, na sua abastança – mesmo triste, acabrunhado, opaco.
Também no tempo atual somos instigados a buscar motivos elevados para estar bem no mundo: “feliz de quem atravessa a vida tendo mil razões para viver”, ensinou d. Helder Câmara (1909-1999). Mil razões não são contadas em cifrões!
A regra dominante na sociedade é o afã do ter, não do ser. De acumular, não compartilhar. De ficar rico de bens – compro, logo existo! – e indigente de beleza interior. De colocar o superficial no lugar do essencial. O privado acima do público. De estar sempre armado diante do outro que, não sendo da “patota”, nosso igual, é ameaça potencial. De conjugar tudo no “eu”, raramente no “nós”: o singular abafando o plural. De venerar não o trabalho criador, mas o Capital. Até instituições e “líderes” religiosos usam o nome de Deus e exploram a boa fé da gente simples para enriquecer!
No mundo atual, da ciranda financeira transnacional, vemos os ricaços – inclusive autoridades públicas – escondendo fortunas em “paraísos fiscais”, enquanto a economia dos países que comandam gera fome, desemprego, carestia, aflição… Insensíveis, esses burgueses insaciáveis dizem que “é tudo legal”, esquecendo da ilegitimidade de ganhar em dólares cujo câmbio manipulam, aumentando tesouros pouco ou nada taxados. “Patriotas” que não investem em suas pátrias. Casta apátrida!
Devemos nos interpelar sempre sobre qual a hierarquia dos nossos valores – materiais e espirituais. Queremos fartura, estamos prisioneiros de necessidades artificiais, ou vida digna para tod@s, sem exclusão e marginalização? Acreditamos de fato que os “últimos” da escala social serão os primeiros? Fazemos por onde isso acontecer, lutando com firmeza e generosidade, sem paternalismos, para a superação da sociedade de classes, injusta e tão desigual?
Lá onde está nosso tesouro está também nosso coração… O que amamos é nossa herança, para sempre. Se damos primazia ao que é passageiro, que o tempo apaga e corrói, logo nos apagaremos também. Teremos vivido mediocremente, em vão. Está conosco a decisão.
A escolha de Jesus – Centro de Estudos Bíblicos (CEBI)