Em milhares de comunidades cristãs do mundo é lida hoje uma fala de Jesus sobre OPÇÃO de vida – que tod@s, dotados de livre arbítrio, independentemente da religião, somos chamados a tomar (cf Marcos 9, 38-43, 45-48).
Em sua conversa com João, que lhe conta que os discípulos proibiram uma pessoa de fazer o Bem em nome de Cristo, “porque ele não nos segue”, Jesus diz que isso está errado: “quem não está contra nós, está conosco”.
Uma lição de grandeza, de respeito a quem não é da “patota”, de amplitude na generosidade, de reconhecimento da pluralidade. Somos assim? Ou ficamos fechados em nossas “seitas”, em nossas “certezas” inquestionáveis, em nossa orgulhosa autoestima, em nossa zona de conforto? Só nós nos julgamos portadores das atitudes corretas, do bom caminho, da verdade?
Depois, falando dos pequeninos – os pobres da Terra, inúmeros tanto naquele tempo como hoje – Jesus é de uma radicalidade total, revolucionária: se o que juntamos com as mãos (bens materiais), pisamos com o pé (desprezamos) e enxergamos (visão distorcida, preconceituosa, elitista, negacionista) for “motivo de escândalo”, de ofensa a esses marginalizados, invisibilizados, “melhor que fôssemos jogados ao mar com uma pedra de moinho amarrada no pescoço”. Ou cortar mão, pé, cegar um olho, pedaços de nós que não cumprem sua vocação de servir e acolher! Sal que não salga e se torna insípido precisa ser jogado fora.
Ou seja, quem não ama, se doa, compartilha e é sensível à dor dos “últimos”, dos injustiçados, dos violentados, não é digno de viver, está desperdiçando o belo dom de existir.
Imagino que o compositor Geraldo Vandré – que, nos idos da resistência à ditadura, frequentava o Convento dos Dominicanos em SP – tenha se inspirado nessa passagem bíblica para fazer uma linda canção, no início dos anos 60 (e que cantávamos nos grupos e missas de jovens, inspirados pela nascente Teologia da Libertação): “Fica mal com Deus quem não sabe dar/ fica mal comigo quem não sabe amar/(…) Quem quiser comigo ir, tem que vir do amor, tem que ter pra dar/ Vida que não tem valor, homem que não sabe dar/ Deus que se descuide dele/ Um jeito a gente ajeita dele se acabar”.
O “Jesus da Gente” da Mangueira: “favela, pega a visão:/ não tem futuro sem partilha/ nem messias de arma na mão” (Manu da Cuíca e L. Carlos Máximo)