Nesse domingo, em milhares de comunidades cristãs, a leitura do Evangelho de Marcos (7, 31-37) é reveladora da pedagogia libertadora de Jesus de Nazaré. Ele devolve a um surdo, que mal falava, o dom da audição e da boa palavra.
Não por um passe de mágica, mas no recolhimento (afasta-se da multidão) e com seus dedos molhados da própria saliva. Buscando a energia cósmica do Todo Poderoso Amor. Por isso suspira, aspira, respira, se inspira e pede: ´”Efatá”, isto é, “Abra-se”.
Aqui, mais uma vez, revela-se um Jesus humaníssimo, Verbo encarnado que, solidário, devolve a escuta e o verbo a quem sofria. Que maravilhoso dom esse da ajudar o outro a se abrir!
O “milagre” não tem importância, tanto que há a recomendação insistente para que ninguém fizesse alarde. O que importa é o sinal, que nos cutuca até hoje: estamos ouvindo o que os outros, sobretudo os desvalidos, os “condenados da Terra”, dizem, clamam? Ou permanecemos na surdez da nossa acomodação, do nosso egoísmo, com ouvidos para ouvir só o que nos agrada, satisfaz o ego, alimenta o orgulho?
Somos tod@s convidados a frequentar a Casa da Palavra, onde o silêncio faz morada. É na reflexão que se gesta a fala transformadora, o diálogo que nos coloca em sintonia fraterna com nossos semelhantes.
Nunca os meios de comunicação foram tão desenvolvidos. Mas também jamais houve tanta solidão, desencanto, perda do sentido da vida, fechamento para a angústia e necessidade alheia. Estamos nos empenhando para dizer a boa palavra, que não é estridente, jogada ao vento, e sim som suave de sabedoria, serenidade, equidade?
Abramos nossos ouvidos. E, orientados pela escuta, pronunciemos a palavra cantante da alegria, a palavra profética da Justiça.
Pedro Casaldáliga no Santuário dos Mártires: “nada matar, nada calar”