“A corrupção é o cupim da República”, disse Ulysses Guimarães (1916-1992), presidente da Assembleia Constituinte que promoulgou a Carta Cidadã em vigor (e tão descumprida e atacada).
Mas, desde que o Brasil virou Nação, há 199 anos, tem agente público que vive de fazer negociatas e usar seu cargo para enriquecer. “Quem rouba pouco é ladrão, quem rouba muito é barão”, dizia-se no Império.
Na República brasileira (seja a Velha, a ditatorial ou essa dita Nova – que está carcomida) é prática comum de mandatários nomear parentes (nepotismo), embolsar dinheiro de assessores, usar abusivamente de todos os recursos disponíveis para o cargo (cartões corporativos, combustível, veículos oficiais). Faz-se da função pública conquistada pelo voto popular um meio de crescimento patrimonial.
“Siga o curso do dinheiro”, é a regra infalível para uma boa investigaçao de crimes, sobretudo os de colarinho branco. A quebra do sigilo bancário e fiscal é reveladora. Altas e tenebrosas transações com dinheiro vivo são sempre suspeitas. Aquisição de imóveis são o meio mais comum de lavagem.
Bolsonaro foi eleito, em 2018, com o discurso moralista contra a corrupção. E se alardeando “antissistema”. Falso: a sua prática, e a de seus “zeros”, indica a montagem de uma “empresa familiar” altamente próspera, inclusive com aquisição de mansões e várias “movimentações financeiras atípicas”, como o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) já detectou.
A “Bolsonaro & Filhos Cia Ltda” é alvo do Ministério Público, que apura uma série de supostos crimes em negócios imobiliários, “rachadinhas”, funcionários fantasmas e tráfico de influência.
O presidente se irrita com esses assuntos, ao invés de enfrentá-los com a serenidade de quem se diz honesto. Seus filhos parlamentares nunca foram à tribuna para se defender – como é próprio do Parlamento: preferem se esconder, silenciar, escudar-se na antes renegada imunidade.
“A democracia é o regime da transparência e nela não pode haver qualquer segredo”, afirmou o filósofo e ex-senador italiano Norberto Bobbio (1909-2004). O que o vereador Carlos Bolsonaro dirá na Câmara do Rio, hoje?
Seu pai, no sábado, em campanha, falou que só tem três alternativas para o próprio futuro: “estar preso, ser morto ou a vitória”. A primeira possibilidade, que ele repudia, é a mais provável.