ESCOLHER O CAMINHO, APESAR DOS OBSTÁCULOS(breve reflexão para crentes ou não)

No trecho de Evangelho de João (6, 60-69), lido hoje em milhares de comunidades cristãs pelo mundo, há um chamamento que vale para tod@s os seres humanos – religiosos, agnósticos ou ateus – de todas as épocas. Trata-se de saber escolher, decidir, optar.

Jesus de Nazaré, aqui, o faz de maneira contundente. Sua pregação incomodava, intrigava, questionava os fundamentos da cultura de seu tempo (uma espécie de “templocentrismo”) e da aceitação da “pax romana” – o globalismo da época.

Ele falava não de rituais, “ofertas” materiais a um Deus distante e submissão ao Império, mas do pão da vida, repartido, e de obediência à lei maior, a do amor. De não guardar o sábado (dia sagrado dos judeus) se o irmão estivesse em necessidade. De não se acomodar a uma ordem injusta. De romper com os grilhões da acumulação material: “O Espírito é que dá a vida, não a carne”.

Decidir é escolher, pois há vários caminhos e temos o livre arbítrio. No caso de Jesus, “muitos discípulos voltaram atrás, e não andavam mais com Ele”. Temiam os percalços, as incompreensões, as perseguições, o fracasso. Queriam só ir “na boa”, uma vidinha sem ousadia e riscos.

Hoje também é assim: somos constantemente seduzidos para uma rotina burguesa, instalada, que “não vá contra a corrente”. Nada do que acontece da porta de casa para fora nos diz respeito. Tudo está pronto, oferecido nas prateleiras do “compro, logo existo” (para os que temos casa e podemos adquirir coisas).

Até nossas emoções são controladas pelo que vem de telas coloridas, não do nosso interior adormecido. Vamos criando camadas de gordura e neuroses que matam: a da indiferença (“e eu com isso?), da passividade (“sempre foi assim mesmo”), do pensamento fechado, dogmático (“é a minha opinião, pronto”).

Toda escolha consciente por uma existência solidária traz serena alegria e… exigências. Semear implica em pisar pedras. As rosas exalam perfume mas seu caule tem espinhos. Amor, por vezes, rima com dor. Pedro, aquele que depois negou três vezes – a incerteza e o medo também nos constituem – fez a opção: “a quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna”.

Viver é garimpar a preciosidade de existir, aderir a valores que a traça não come nem a ferrugem consome. É ter grandeza, sem apegos e mesquinharias, mesmo sendo pequeninos. Livrar-se de tudo o que pesa na caminhada. Ser fraterno para ser eterno.

Um outro Pedro, o Pellegrino (1950-1996), psicanalista, poeta e cristão arrebatado, inspirado, orientou: “Não devemos perguntar o que será de nossas vidas, jamais. Devemos arregaçar as mangas, cuspir nas mãos, pegar na pá. De pá em pá, chegar à pá-ciência”.

Assim sejamos. Bom domingo!

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