DESEJO DE CÉU(breve reflexão para crentes ou não)

Hoje, nas comunidades católicas do mundo, celebra-se a Assunção de Maria. Curiosamente, a subida aos céus de Nossa Senhora não está nos Evangelhos: vem de antiga tradição oral, contada, cantada, imaginada. Bonita!

O que se lê é uma das mais tocantes passagens de Lucas (1,39-56). Um diálogo entre duas grávidas (vidas portando vidas), Maria e Isabel. O êxtase de Isabel ao receber Maria na região montanhosa onde morava (há que subir, sempre!). O cântico revolucionário de Maria, carregado de gratidão por um Deus que nela “fazia maravilhas”. E atuava na história de sua gente pobre e sofrida, “derrubando os poderosos de seus tronos e elevando os humildes, enchendo os famintos de bens e despedindo os ricos de mãos vazias”. Anúncio de utopia, primazia das mulheres na sociedade patriarcal.

Não está na Bíblia, mas no imaginário popular, há séculos: Maria subiu aos céus e reside na Glória. Não é esse o desejo escondido que mora em tudo o que vive (e não apenas no pássaro que voa e invejamos)? Quem não quer o infinito, a eternidade, o azul do céu, o reino de iguais no amor sem fim?

A arte é expressão dessa nossa ânsia de plenitude. “A gente quer Deus porque quer um fim, mas um fim com depois dele a gente tudo vendo”, disse Guimarães Rosa, pela boca do jagunço filósofo Riobaldo, do Grande Sertão.

Paulo José e Tarcísio Meira, grandes atores que nos deixaram esta semana, falaram – na novela “Um anjo caiu do céu”, há 20 anos – dessa esperança de ascender à morada eterna, onde estaremos libertos da dor e da morte:

– Adeus, João Medeiros! Um dia nos veremos… lá – disse Alceu, personagem de Paulo, abraçando comovido o amigo e apontando para o céu. – Mais cedo do que você pensa… – respondeu João/Tarcísio.

É linda a ousadia da fé de querer o céu, de romper limites, de superar as misérias do cotidiano. De aceitar passar mas desejar ficar – pelo muito que, nesse vida, conseguimos fazer florescer, pelo tanto que, na existência terrena, buscamos e soubemos amar. O poeta viu, na escuridão, essa aspiração: “Luz, quero luz, sei que além das cortinas são palcos azuis, com infinitas cortinas de palcos atrás” (Chico Buarque).

Seres finitos aqui na Terra, queremos todos esse destino celeste, imperecível, de vida em abundância. Também para o Reencontro com tanto/as querido/as que partiram para essa outra dimensão… Cada um é chamado a subir, a elevar-se. Vocação de grandeza. Como você tem cuidado da sua? Nossa eterna-idade começa aqui e agora.

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