Que o nosso Rio tem uma vocação “ruidosa e festeira” todos sabemos. Que aqui ainda resiste uma “alma encantadora das ruas” (apesar das violências e dos buracos) podemos constatar.
Mas esse ano e meio de Covid, com sua propagação mortal estimulada pelo governo federal, evidenciou ainda mais nossas mazelas e desigualdades. Nossas misérias e sofrimentos do cotidiano.
A Covid não acabou! E tem uma nova variante, a Delta, que já representa quase 50% das contaminações atuais na cidade. Volta e meia a vacinação é interrompida, pela incúria do Ministério da Saúde. Que, depois da demora na compra (graça$ à “propinavac” e ao negacionismo), continua com logística sofrível.
Apesar disso, as autoridades municipais insistem no marketing irresponsável. O prefeito Paes anunciou um feriadão de celebração a partir de 2 de setembro agora (!!!), com eventos públicos diversos. Botou até nome: “Rio de novo!”. Como ninguém riu do absurdo, não tocou mais no assunto.
Agora é a Riotur que anuncia, através de sua presidenta, Daniela Maia, “um réveillon espetacular”, com 13 palcos com música e, claro, muita aglomeração. Empresas interessadas em patrocinar a festa já estão sendo convocadas.
Ok, planejar é preciso e todos desejamos o reencontro, danças, beijos e abraços. Mas cada anúncio precoce desse soa como um “voltamos à vida normal”. É um chamamento ao descuido, à compreensão equivocada de que o vírus já foi derrotado. Cada convite oficial a grandes eventos faz milhares abandonarem de vez (e de imediato) as precauções mínimas, como máscaras e distanciamento. Isso já está rolando.
Parece que nada aprendemos com a tragédia. No poder central, o ainda presidente desprezando a máscara – até tirando a de crianças! – e as vidas perdidas. Aqui, gestores anunciando festas.
Vale lembrar que somos apenas 21% totalmente imunizados. E que muitos países da Europa, após “brindarem” euforicamente o fim do vírus, tiveram que retroceder. Nos EUA também retornam as preocupações.
As mais de 560 mil famílias enlutadas e nós, sobreviventes, merecemos postura mais austera e cautelosa por parte das autoridades. Nesse afã de “celebrar a vida” (e a retomada dos negócios) se está banalizando a dor e a morte. A sabedoria popular ensina: “devagar com o andor que o santo é de barro”.