Nesse primeiro dia de um novo mês é lido, em milhares de celebrações cristãs pelo mundo, um relato sobre o que somos: seres carentes, famintos, à procura (Jo, 24-35).
Mais do que na suntuosidade de templos e do império, entronizando um Jesus poderoso, imagem e semelhança do rei, aqui está um Jesus reflexivo. Que, ao ser encontrado (há que procurá-Lo!), indaga sobre nossas sedes e fomes. Sobre onde colocamos nossos desejos.
Nossa vida é uma procura. Reside em nós, oculta, a fome de um pão que não embolora, de uma água que rejuvenesce. O sistema do messianismo de mercado tenta saciá-las através das coisas, da sedução dos bens, criando necessidades que, logo adiante, virarão frustração. Para muitos, por não ter condições de adquirí-las. Para outros, por perceber, afinal, que a felicidade não está na acumulação (mas, ainda assim, querem mais, na doentia compulsão).
A vida é uma oferta divina. Sempre há um maná no deserto. É preciso distinguí-lo, discernir entre o “pão da vida”, que nos eleva e dá sentido, e o que é vendido nas prateleiras sociedade de consumo – no mundo fascinante e medíocre do ter, que obscurece o ser.
As aves cantam o nascer do dia, o peixe sacia sua sede no fundo dos rios e mares, as árvores buscam o céu. A mínima formiguinha do caminho faz da sua rotina laboriosa uma modo cooperativo de sobreviver. As montanhas delineiam e desafiam os horizontes, os oceanos são imensidão e mistério. Tudo o que pulsa é busca de luz, de calor, de significado.
Sejamos assim também, seres à procura, que sabem que essa busca, movida por uma autêntica necessidade interior, só terá êxito se for coletiva, agregada – pão compartilhado.
Somos seres ansiosos por respostas, Eternidade a dentro: “Frente a frente com Deus, serei aquele amontoado de perguntas” (Hilda Hilst, 1930-2004). Mas, sobretudo, somos seres que, na simplicidade, podem aprender, graças a Deus, que amar é o único meio de superação de todas as angústias: “Ao final do caminho, Ele me dirá: e tu, viveste? Amaste? E eu, sem dizer nada, abrirei o coração cheio de nomes” (Pedro Casaldáliga, 1928 – 2020).
Bom domingo, o primeiro de agosto (que ele traga mais bom gosto que desgosto).
Imagem: Claude Monet (1840-1926) – Impressão, nascer do Sol