É incrível como o presidente da República, diretamente do Palácio, e usando os meios públicos de que dispõe, entra descaradamente em campanha eleitoral.
É o que Bolsonaro está fazendo em sua “live” semanal desta última 5a do mês: um enorme “horário eleitoral gratuito”. Gastou 40 minutos atacando o “outro lado”, que quer “voltar a mergulhar o país na corrupção e da impunidade”. Atacou o TSE (“que mente”) e seu presidente: “quer manter a suspeição sobre as eleições. Quem ele pensa que é?”. Atacou a Argentina e vários outros países.
E fez vários autoelogios, a começar por se definir como “o 1º governo em 30 anos que barrou a corrupção” (!!!). Messiânico e megalomaníaco, repetiu: “Deus me colocou aqui e só Ele me tira”. Completou, como mui temente a Deus, defendendo o armamentismo crescente que promove no país: “a arma é um sinal de liberdade”.
Disse também que “nenhum governo deu tantos títulos no campo quanto o meu” (!!!). “Não é fácil segurar demarcação de terras indígenas e quilombolas”, reconheceu o aliado de madeireiras, mineradoras e da devastação ambiental.
Repetiu umas seis vezes que “os que vão contar os votos na sala secreta são os que tiraram Lula da cadeia”, mentindo e mal escondendo o medo da derrota. Ameaçou: “Barroso quer a inquietação popular, quer que surjam movimentos contra a democracia?”.
Depois colocou um senhor Eduardo e muitos vídeos de reportagens jornalísticas para mostrar as “provas” de que as urnas eletrônicas fraudaram eleições.
Baseados em pesquisas eleitorais (que tanto desprezam) e sem apresentar prova nenhuma, omitiu que cada uma das milhares de urnas tem boletim de contagem. E que TODOS os partidos podem e devem colocar fiscais para verificar a programação e a contagem eletrônicas.
O Congresso decidirá sobre o voto impresso. Até considero que a engenhoca para imprimí-los (imagine quantas falharão e que tumultos virão) pode ser instalada aleatoriamente, como amostragem, para eventual nova verificação. Mas o que Bolsonaro quer é desacreditar o nosso sistema de votação, para justificar eventual fracasso eleitoral. Trump fez igual, na realidade dos EUA (que não tem urna eletrônica), e tentou um golpe, quando perdeu.
As urnas eletrônicas são perfeitamente auditáveis. Vi muita manipulação, isso sim, no tempo do voto manuscrito, com escrutinadores manipulando cédulas. Com a máquina de votar – e disputei muitas eleições com elas, votando em todas – NUNCA me senti fraudado. Uma tentativa, bem antes das urnas eletrônicas, mas com somatório já nos computadores, foi denunciada e barrada por Brizola, em 1982: o esquema ProConsult.
Sabe para que se montou essa cena e se faz essa “campanha” no país das 554 mil mortes com a Covid? Para desviar o foco dos graves problemas que o Brasil sofre em função do (des)governo Bolsonaro, que é um horror. Não passa de choro de perdedor.