Na passagem do Evangelho de Marcos (6, 30-34), lida em milhares de comunidades cristãs nesse domingo, Jesus dá uma orientação que vale como regra de vida para qualquer pessoa: é preciso buscar nosso mundo interior para estar bem no mundo à nossa volta.
É um imperativo ficar em silêncio para melhor ouvir e dizer a boa palavra. É necessária a reflexão para melhorar nossa ação. É imprescindível escutar nossa voz interior para fecundar a sociedade com Justiça e Igualdade, sem o que não há Paz.
Recolher-se não é se fechar. É reconhecer nossas insuficiências e neuroses, nosso egoísmo, nosso potencial, nossos limites e possibilidades. É preparar-se para se abrir, amorosa e serenamente, aos outros.
A sociedade do mercado total, a civilização das coisas, é um chamado frenético à dispersão, à exterioridade, aos barulhos, aos sons, à superficialidade – vivemos com medo de visitar o interior do nosso interior, de reconhecer nossa grandeza, que não está nos bens materiais, e nossa finitude, nossa fragilidade, que revela-se a todo momento.
Esse “deserto” a que somos convocados é fértil. Só ali podemos encontrar a fonte do Ser, a sabedoria de viver, o Deus do todo poderoso amor, que nos cura das inevitáveis feridas.
Num mundo onde multidões são “como ovelhas sem pastor” (ou ludibriadas por falsos guias, oportunistas e exploradores da boa fé dos mais humildes), é importante perceber ali vidas ávidas de sentido, carentes do essencial – pão partilhado e comunhão.
Para sermos sinais de alguma esperança é fundamental sairmos da solidão povoada para encontrarmos o verdadeiro sentido da existência socializada, fraterna, comungada, vivificada.
Só nosso “eu” bem conhecido, livre do ego, pode tornar-se alimento para o ser. Ser que, para realizar-se, tem que ser-com-os-outros. No tempo da indiferença e do descarte, somos, mais do que nunca, vocacionados (isto é, chamados) à com-paixão.
“Per ardua ad astra” (“arduamente, até as estrelas”). Matriz de Santa Rosa de Viterbo e o céu interiorano. Foto Marcelo Zilio.