No trecho do Evangelho lido hoje em milhares de comunidades cristãs do mundo (Marcos, 6, 7-13), Jesus fala do essencial: estar em saída, assumir nossa missão. Não permanecer no conforto individual, no egoísmo a dois ou só no amparo familiar. Viver é ir na direção dos outros. Há sempre alguém à nossa espera, necessitado de pão ou atenção.
Jesus também fala do jeito de ir (para Ele, o conteúdo nunca está desvinculado da forma): armados apenas de convicção – nada no bolso ou nas mãos. Seguir despojadamente, praticando o desapego. Calçando as sandálias da humildade.
Quantos líderes religiosos, ao longo do tempo, com “discursos edificantes”, revelam só incoerência, carregados de vaidades, arrogância e ânsia de mando? Quantos se julgam portadores de “verdades absolutas” e não de acolhimento? Também muitas igrejas se tornaram instrumentos de conquistas, cruzadas, impérios e poder político opressor, fazendo da fé sincera dos pobres meio de arrebanhamento e dominação: “dominus, domínios, juros além…”
Tudo ao contrário do que Jesus prega aqui e é nossa missão: servir, compartilhar, semear, espalhar benefícios. Como repetia o poeta e profeta Pedro Casaldáliga (1928-2020), bispo católico e ecumênico do Araguaia, “nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e, sobretudo, nada matar!”. Assim sejamos, ou tentemos ser.
Arte: Martiria/Orofino (Centro de Estudos Bíblicos): a espiritualidade do testemunho.