É costume dizer que, no Brasil, as estações do ano não são muito definidas. Mas do ponto de vista social e político, estamos, faz tempo, em pleno inverno, que começa oficialmente hoje.
Sentimos frio na alma. Falta o agasalho da solidariedade. Pesquisa realizada agora pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), coordenada por Daniel Duque, coloca o Brasil em 2º lugar no “índice de mal estar” ou “taxa de desconforto”, entre 38 países (só somos superados pela Turquia).
O fundamento desse levantamento internacional é econômico. Desemprego (29,7% da nossa força de trabalho está desempregada ou subempregada) e inflação (6 a 8% nos últimos 12 meses, com alguns produtos básicos chegando a 30%!) são a razão desse pessismismo.
Ainda é inverno em nossos corações, com o mais de meio milhão de mortos da Covid, a indiferença federal frente à desgraça, a devastação ambiental recorde, a corrupção oficial (“orçamento paralelo”, contrabando de madeira, proteção à “familícia”), a ascensão a “consultores” do governo de figuras como Roberto Jefferson, Malafaia e Valdemar Costa Neto, as mentiras, os privilégios à casta militar, a preparação do golpe. Tempo ruim da autorização para matar e desmatar.
Hoje, primeiro dia do nosso inverno, buscando razões para prosseguir, acordei com a canção “Cigarra” (de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos) na cabeça: “(…) porque a formiga é a melhor amiga da cigarra/ raízes da mesma fábula/ que ela arranha, tece e espalha no ar/ Porque ainda é inverno em nosso coração/ essa canção é para cantar/ como a cigarra acende o verão/ e ilumina o ar!”
Aqueçamo-nos na consciência e na luta. A arte ajuda!
Foto: Rosas da saudade abrindo em pleno inverno, em Copa (Rio de Paz)