TRAVESSIA, TEMPESTADE E FÉ(Breve reflexão para crentes ou não)

Nesse domingo, 20 de junho, cristã/os do mundo ouvem uma passagem do Evangelho (Mc, 4, 35-41) que parece relatada especialmente para nós, brasileira/os: fala de tempestade na travessia, mar revolto, fragilidade da embarcação. Do medo da morte.

A tempestade está aí, a maior da nossa “viagem” como Nação. São 500.868 mortes pela Covid 19! Mais de meio milhão de ausências, de saudades, de lembranças de querida/as que podiam e deviam continuar entre nós…

É a barca Brasil adernando, pois soma-se a essa devastação sanitária a ambiental, a econômica (a inflação da comida e do combustível atinge sobretudo os pobres), a política (a corrupção de ideias, o negócio particular predominando sobre o interesse público) e a da segurança (o armamentismo cresce e mata-se por qualquer motivo). Vivemos uma tempestade.

Na da passagem do Novo Testamento, Jesus dormia, enquanto seus amigos se afligiam. Mas não era um sono de alheamento, de “e daí?” ou “não sou coveiro” ou “não é nada demais”… Comandante zeloso por sua tripulação, Ele, ao ser acordado com um “Mestre, não te importa que morramos?”, antes de mais nada tratou de ordenar ao vento e ao ao mar: “Cale-se! Acalme-se!”. E só então questionou o medo e a pouca fé dos que agora ficavam mais calmos (e felizes e admirados).

Vida é travessia, é um sempre ir “para o outro lado do mar”. E toda travessia é perigosa. Há amores, remo e vela que nos empurram para frente. Há dores e perdas, que tiram nossas forças.

Para quem tem fé – que não é um dado adquirido, mas uma busca permanente e renovável a cada dia – até o sofrimento real é, superado o impacto terrível, possibilidade de avanço, de crescimento em humanidade, de impulso para se chegar ao porto novo.

O que nos ameaça de naufrágio na travessia terrena é não perceber a direção do vento e não ter um porto, um objetivo coletivo, um sentido solidário de vida a alcançar.

No início da pandemia, em março do ano passado, o papa Francisco destacou exatamente essa passagem evangélica para, em comovida prece, falar dos nossos medos, e do que nos levava para o fundo: “na nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela posse”.

Ter fé em meio à tempestade e à morte próxima é se desapegar e dar valor ao essencial. É “acordar o Mestre que nos guia” e acordarmo-nos para a ajuda mútua, compartilhada, a fim de prosseguir viagem.

É saber, apesar das trevas, “que quanto mais escura a noite, mais carrega em si a madrugada”, como ensinou D. Helder Câmara (1909-1999).

Cresçamos em fé, em ciência, em amor! São os ingredientes de uma vacina tríplice necessária para sobrevivermos, nas tragédias da vida, sem perder o rumo do porto seguro da igualdade e da paz – ideal utópico de um reino fraterno que começa aqui e agora.

“Na minha terra a morte é minha comadre (…) Ressurgiremos. Por isso o campo-santo é estrelado de cruzes” (Adélia Prado)

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