Enamorar-se é como rir (viva Paulo Gustavo!): um ato de resistência, de sobrevivência, de re-existência. Faz bem à saúde e prolonga a vida, além de lhe dar um sentido gostoso de ternura.
Enamorar-se só se realiza com aquele ou aquela que nos dá sentido: o/a outro/a. “Fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho”, cantou nosso maestro soberano, Antonio Carlos Brasileiro Jobim (1927-1994).
Enamorar-se é, em sentimento correspondido, semear flores no áspero do asfalto, sabendo dos espinhos – caminha dura e dura caminhada. É, ao olhar-se na luz dos olhos, buscar também um rumo comum.
Enamorar-se é saber que a alegria a dois é importante mas… insuficiente. É preciso também enamorar-se pelo cotidiano, pela miudeza amorosa de passar um café, varrer o chão, repartir o pão.
Enamorar-se é, a dois, ser mais que dois: é cultivar relações de vizinhança, batalhar para que a sua cidade seja coletivo de cidadã e cidadão, lutar para superar as mazelas de um país injusto, cuidar da Mãe Terra, nossa maltratada casa comum. Pensar globalmente e agir localmente!
O poeta Robert Frost (1874-1963) pediu para colocarem no seu túmulo uma inscrição linda: “Ele teve um caso de amor com a vida”. O querido Rubem Alves (1933-2014) repetia que gostaria muito que essa frase fosse dele, mas escreveu belezas semelhantes: “o amor é a vida acontecento no momento, presente puro, eternidade numa bolha de sabão”.
Não há tempo nem preparo para enamorar-se: “Amor é o que se aprende no limite, depois de se arquivar toda a ciência herdada, ouvida. Amor começa tarde” – lembrou nosso poeta maior, Carlos Drummond de Andrade (1902 -1987).
Sim, há muita solidão ao nosso lado (há também solidão em nós). É preciso ser solidário com todos os “sem”, inclusive os “sem amor”. Não é uma condenação, é uma situação.
Qualquer que seja nossa condição, enamoremo-nos, sempre. Mesmo nesses tempos sombrios e pandêmicos, há possibilidade de laços, há braços!
Enamorar-se é estar sempre armando um presépio dentro de nós: às vezes faltam peças, mas a tarefa é de todo dia, tecida na alegria.
O cenário ao fundo é criação do padre e escultor Wanderson Guedes, da Paróquia da Glória – Rio