SINAL DE INCÔMODO E CONTRADIÇÃO (Breve reflexão para cristãos ou não)

Nesse domingo, a passagem evangélica lida no mundo inteiro (Marcos 3, 20-35) é reveladora do caráter revolucionário da prática de Jesus.

Ele, à medida em que ia pregando justiça e amor, reunindo gente empobrecida e ávida por vida, começa a incomodar até seus parentes: “será que ficou louco?”. A dimensão pública e profética do andarilho de Nazaré assusta também os poderosos de seu tempo, que logo o demonizam: “tem parte com Satanás!”.

Jesus não se aborrece. Explica aos seus que as calúnias que sofre são parte do processo – as trevas sempre resistem à luz. Didático, indaga como ser possível quem aposta na unidade ser acusado de promover a divisão, quem semeia o bem ser considerado agente do mal? E, ousado, radical (no sentido de ir à raiz), afirma a primazia do amor ao próximo, da solidariedade: “minha mãe e meu irmão, irmã, é quem faz a vontade de Deus”. Sua família é a grande e diversa e sofrida família humana.

Ontem como hoje, quem é movido pela fraternidade rompe com as convenções da sociedade estabelecida, com a hipocrisia reinante, com a acomodação individualista. Provoca reações, gera a instalação de “gabinetes do ódio”, é alvo de mentiras, sofre difamação e injúria. Há até mesmo “igrejas” especializadas em capturar “almas”, dinheiro e poder, negando esse Jesus rebelde.

Em 1605, quinze séculos depois da passagem de Cristo, Miguel de Cervantes escreveu o livro mais lido do mundo depois da Bíblia: “Dom Quixote de La Mancha”. Em um trecho, ele sintetiza a reação contra quem quer revolucionar o mundo: “Os cães ladram, Sancho. É sinal de que estamos avançando!”.

Avancemos, sempre. À nossa frente estão o Jesus histórico e outros seres humanos sensíveis, dignos e luminosos. Anônimos ou conhecidos, eles sabem que “ser é ser-com-os-outros”. Sabem e fazem, rompendo com as estruturas da indiferença, da vaidade personalista, do descarte, do egoísmo industrializado.

Foto: Mural dos Mártires – Diocese de São Félix do Araguaia (criação de Cerezo e Pedro Casaldáliga)

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