UNO E TRINO, MISTÉRIO E MINISTÉRIO(Breve reflexão para cristãos ou não)

É conhecida a reflexão de Santo Agostinho (354-430 d.C.) sobre a Santíssima Trindade, que sempre o intrigou. Como um Deus único é, ao mesmo tempo, três: Pai (que é também Mãe), Filho e Espírito Santo (cf Mt, 28, 16-20)?

O bispo de Hipona (atual Argélia) caminhava na praia, mergulhado em pensamentos, quando viu um menininho enchendo um buraco na areia com a água que pegava no mar. Ao ser indagado sobre o que fazia, a criança respondeu: “vou colocar aqui toda a água do mar!”. Agostinho então, ouviu uma voz interior dizendo: “é mais fácil esse menino colocar o oceano no buraquinho que cavou do que a inteligência humana compreender os mistérios de Deus!”.

É isso: fé é acreditar no inacreditável, ver o invisível, entender que há situações que fogem ao entendimento. “Mistério sempre há de pintar por aí”, cantou Gil. Nossa existência é pontuada por sombras e luzes. Mas essas, se fortes, podem ajudar a iluminar a escuridão.

Assim, temos pistas – bonitas! – para entender mistério da Santíssima Trindade. Revelam um Deus que é singular e plural. “Javé”, Aquele que é, e que é vário, múltiplo, buscado por diversas culturas.

Um Ser, a Energia Primeira, fonte da Criação, que se desdobrou amorosamente na pluralidade – até de universos com galáxias em expansão. Um Onipotente que, atomizado, “desempoderado”, se fez presente na diversidade humana – de línguas, religiões, fisionomias, costumes, jeito de viver. E que quis ser, através de seu Filho bem amado, um de nós, datado, aculturado, torturado, sepultado e revivificado. Sinal de que a vida é maior do que a morte.

O Espírito Santo é perene certeza dessa iluminação, através dos tempos e das civilizações: espírito de luz, de compreensão, de inteligência, de ciência, de fortaleza, de humildade, de generosidade.

O mistério da Trindade não é paralisante, ao contrário. Ele indica que a crença na “Força maior que nos guia” humanizou-se na figura de Jesus e que este, através do Espírito – que sopra onde quer e como quer – nos estimula a realizar nossa vocação, nossa tarefa (=ministério): a de, em nossa passagem pelo mundo, contribuir para deixá-lo melhor, mais unificado, sem o abismo da desigualdade social, e, ao mesmo tempo, diverso, sem preconceitos contra o que é diferente de nós.

Diante do mistério, a prática é sempre o critério da verdade: como temos cumprido essa missão comum, de tão fácil compreensão?

A Santíssima Trindade – Claudio Pastro (1948-2016)

Compartilhe:

Facebook
WhatsApp
Twitter
Telegram
Email

Leia também:

gdqzzgcwiaak9ki

TUDO SOBRE O GOLPE!

Leia todas as informações sobre as tratativas do golpe, a partir das quase 900 páginas do relatório da PF.

Rolar para cima