Hoje, para os cristãos, é o Domingo da Ascensão. Nos últimos versículos do Evangelho de Marcos (16-15-20) está o relato do “adeus” de Jesus. Humaníssimo!
O Ressuscitado, como de costume, chega junto a seus amigo/as em meio à uma refeição. Lembro do papa camponês, João XXIII: “diante de um bom garfo, muitos problemas são resolvidos”. Refeição compartilhada é comunhão, é cotidiana solução.
Jesus alerta para a falta de fé – na vida, no que virá – e para a “dureza do coração” – como essa petrificação da sensibilidade segue forte hoje, no sistema da acumulação competitiva de bens!
E, sobretudo, fala da missão possível e necessária a todo/as, religiosos ou não. Espalhar a Boa Notícia para o mundo inteiro é ser portador de sinais generosos no combate ao mal – tudo o que nega a vida -, é saber falar com os diferentes e os indiferentes, é não se deixar envenenar pelo egoísmo e pela prepotência, é ajudar nosso semelhante a enfrentar o sofrimento e a perda de sentido de viver.
Após falar, “Jesus foi levado ao céu”. É nosso destino, não ficar aqui eternamente. É nossa tarefa existencial viver ternamente. E assim deixar, em nossa curta passagem, sinais e lembranças do que o tempo não destrói: amorosidade, busca da felicidade – que é para todo/as ou não é felicidade de verdade.
O cristianismo é um desafio permanente: perceber o transcendente no imanente, entender que há algo além do que se vê, encontrar a Energia Vital (Deus) no coração da matéria. É saber que só somos plenamente quando, apesar de tanta dor, conseguimos nos ultrapassar, nos superar. O solidário vence a solidão.
A morte, na perspectiva da fé (que é um face a face no escuro, diálogo com nosso ‘Deus escondido’), é passagem para ‘um outro nível de vínculo’. Uma ascensão, um rompimento com as misérias e grilhões do que é perecível no tempo.
Mas na caminhada terrena podemos experimentar “pedacinhos do céu”. Momentos de plenitude, apesar das nossas limitações. O infinito num grão de areia, a alegria contemplando a lua cheia. Descobrir quem somos – tarefa sem fim – ajuda nisso: “para ser grande, sê inteiro, nada teu exagera ou exclui, põe o quanto és no mínimo que fazes” (Fernando Pessoa, 1888-1935).
Sejamos! Cresçamos sempre para, enfim, ascender.
Giotto (1267-1337): a festa (pública, acompanhada!) da Ascensão e a Missão