Hoje, no Brasil, é o Dia das Mães. A sociedade do mercado total tenta comercializar tudo, até o nosso afeto. Tenta. Façamos com que não consiga!
Coincidentemente, o Evangelho de João (15, 9-17) lido para milhões de cristãs e cristãos no mundo fala da essência do ser mãe (e de ser gente, filha, filho, e assim toda a descendência): o AMOR, essa lei maior.
Papa Francisco diz que “Cristo não veio fundar uma nova religião, mas nos ensinar a viver”. Assim foi nessa conversa de Jesus com seus amigos, no aconchego da refeição compartilhada. Numa época em que se multiplicavam preceitos, ritos e obrigações (muitas gerando ganhos para os “donos” do Templo), Jesus de Nazaré foi sintético: “o meu mandamento é este: amem-se uns aos outros (…) Não existe amor maior do que dar a vida pelos amigos”.
O Dia das Mães é um dia de amor – como tantos outros. Hoje, livres dos “mandamentos” materiais e das formalidades, celebremos a maravilha da geração da vida, da ternura por ela. A beleza da ira santa quando a cria é ameaçada, do cuidado quando nossas mães, idosas ou adoecidas, voltam a ser frágeis como bebês e precisam de retribuição, sendo nós as mães e pais de nossas mães (e pais)…
Hoje é dia da saudade por quem já partiu, deixando imenso vazio. Nossa mãe, a mãe de nossa mãe. Resta-nos pedir que velem por nós… Como faz bem saber que há, em meio à escuridão, essa protetora luz infinita!
Dia de lembrar que entre as 421.484 mortes da pandemia há mãe vitimada, há mãe na agonia de ter perdido filha, filho, mãe na solidão da precoce e evitável viuvez. Uma devastação!
Mães da creche em Santa Catarina, qual a Raquel do Antigo Testamento, “a chorar seus filhos, com pranto sentido e lamentação”. Mães sem consolo, pois seus bebês amados não mais voltarão. Dor indizível: no município de Saudades, “a saudade é o revés de um parto/ é arrumar o quarto do filho que já morreu”. Deus de compaixão, amparai essas mães massacradas, sem explicação!
Mães pobres e sofridas do Jacarezinho e de tantos jovens chacinados, mães de policiais mandados para uma guerra insana nesse país de necrogovernos que desprezam a vida e banalizam a morte.
Hoje é dia de celebrar também as mulheres que não são mães biológicas e, ainda assim, “grávidas” de amor, se constróem como maternais zeladoras da biosfera, protetoras da Criação. Mulheres férteis que tanto ajudam a possibilitar os semelhantes, e não querê-los como mera extensão de si.
“Amai-vos uns aos outros”: bem aventuradas todas as mulheres que, sábias e generosas, multiplicam essa compreensão, da qual temos andado tão órfãos.
Gustav Klimt (1862-1918): mãe e filho